Álvaro Siza doa 40 projectos a Serralves

A Fundação de Serralves, no Porto, é uma das três instituições, com o Centro Canadiano de Arquitectura, em Montreal, e a Gulbenkian, em Lisboa, que vão assegurar a coordenação articulada de todo o arquivo do arquitecto.

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Paulo Pimenta

O arquitecto Álvaro Siza Vieira formalizou esta quarta-feira a doação de uma parte dos seus arquivos à Fundação de Serralves, que irá receber esboços, plantas, desenhos e maquetas relativos a quarenta projectos do prémio Pritzker, dos seus primeiros trabalhos em Matosinhos, nos anos 50, a obras mais recentes, como a intervenção urbana na Praça da Liberdade, no Porto, o restauro da Casa de Serralves ou o Pavilhão Multiusos de Gondomar.

A cerimónia de assinatura do protocolo de doação decorreu no próprio atelier de Siza, onde o presidente da administração de Serralves, Luís Braga da Cruz, agradeceu que Siza se tenha “lembrado de Serralves”  e, congratulando-se pelo “número significativo” de projectos que esta doação contempla, enumerou entre os mais relevantes o Museu de Serralves e a Faculdade de Arquitectura do Porto, mas também trabalhos de início de carreira, como a piscina da Quinta da Conceição, em Matosinhos, ou o próprio edifício em que decorria a sessão, projectado por Álvaro Siza Vieira nos anos 90.

A intenção de doar parte dos seus arquivos a Serralves já fora anunciada pelo arquitecto há cerca de um ano, quando explicou que tencionava dividir o acervo entre o Centro Canadiano de Arquitectura (CCA) e as fundações de Serralves, no Porto, e Gulbenkian, em Lisboa.

Para Siza, uma das consequências benéficas desta distribuição foi ter levado as instituições envolvidas a criar protocolos entre elas para garantir uma coordenação articulada dos arquivos. “Parece-me um motivo de satisfação que o CCA, que é o melhor arquivo de arquitectura do mundo, integre este agrupamento com a Gulbenkian e Serralves”, observou o arquitecto.

Todos os materiais irão agora ser digitalizados e catalogados em articulação com as instituições parceiras – e beneficiando da experiência do CCA no tratamento de arquivos de arquitectura –, de modo a que a totalidade do arquivo possa ser estudada a partir de qualquer uma das instituições.

Siza adiantou ainda alguns critérios que nortearam a distribuição dos projectos pelas três instituições, explicando que a maioria dos projectos internacionais foi para o Canadá e que os projectos das obras mais representativas que tem no Porto e em Lisboa ficaram nas respectivas cidades, como o Museu de Serralves ou a Faculdade de Arquitectura, no primeiro caso, ou o Pavilhão de Portugal, no segundo. Mas precisou que esta lógica só se aplicava aos "projectos centrais", e que se “procurou não cair nessa coisa limitada de os projectos do Porto ficarem todos no Porto e os de Lisboa em Lisboa”. Pelo contrário, explicou, o objectivo foi que cada uma das instituições dispusesse de “exemplos diferentes”.

A lista de projectos doados a Serralves, aos quais poderão vir a somar-se outos mais recentes que ainda não foram tratados do ponto de vista arquivístico, confirma esse esforço de garantir um conjunto diversificado, que cubra vários períodos temporais e abarque obras de diversa natureza, dimensão e função.

Não peçam é a Álvaro Siza Vieira que aponte o seu projecto preferido. “Para o arquitecto, a obra é um todo e as ideias saltam de uns projectos para outros”. E para mostrar que os afectos têm a sua lógica própria e que os projectos de que se sente mais próximo não são necessariamente os melhores, lembra o mais antigo trabalho incluído nesta doação, um projecto de quatro casas de habitação em Matosinhos, datado de meados dos anos 50. “As trabalhadoras das conserveiras fizeram coro a dizer que eram as casas mais feias de Matosinhos, e eu também as acho um bocado feiosas, mas o que me vem ao espírito quando penso nelas é tudo o que aprendi, e por isso ocupam um lugar importante na minha obra.”

Um momento divertido da sessão, como o foi depois o de Braga da Cruz a confidenciar que, enquanto engenheiro civil, trabalhara com o arquitecto no início da década de 70, ainda antes do 25 de Abril. Siza lembrava-se bem: “Recordo-me de uma obra em que havia um pilar a que chamávamos Champalimaud, porque convergia tudo ali, e confesso que receei que um engenheiro tão novo não fosse capaz… mas você rapidamente me convenceu de que era”.

 

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