Ainda sobre o Acordo Ortográfico

Em dois dias consecutivos (29 e 30 de Julho de 2015), nas páginas do jornal PÚBLICO, Ivo Miguel Barroso e Artur Magalhães Mateus traçam um panorama sobre a posição dos nossos partidos políticos sobre o Acordo Ortográfico de 1990. Antes de mais, importa dizer que esse panorama que nos é apresentado não está completo.

O “Nós, Cidadãos!”, um dos mais recentes partidos políticos, que está a discutir publicamente o seu programa político-eleitoral, é ignorado. Ora, no fórum criado para essa discussão pública (noscidadaos.pt/forum), pode ler-se a seguinte posição de princípio: “O papel do Instituto Camões deve ser igualmente reforçado, em articulação com o Instituto Internacional de Língua Portuguesa, em prol da difusão da Língua Portuguesa à escala global. No âmbito do Instituto Internacional de Língua Portuguesa, defendemos um melhoramento concertado do Acordo Ortográfico e recusamos qualquer iniciativa unilateral que ponha em causa essa concertação.”.

Provavelmente, adivinhamo-lo, esta será uma posição que não agradará de todo aos autores do panorama em causa, para quem a questão do Acordo Ortográfico parece ser o alfa e ómega de todo e qualquer programa político-eleitoral. Daí, de resto, a escolha partidária que parecem defender, quando escrevem: “O Partido Nacional Renovador é o mais enfático na rejeição do AO90: afirma que obedecer a algo tão aberrante é um perfeito acto de cobardia e de traição à nossa identidade e à nossa cultura’”. Já tendo apenas em conta os partidos com representação parlamentar na presente legislatura, o coração parece balançar para o Partido Comunista Português, por ter sido “o único Partido que apresentou um Projecto de Resolução, que admitia a desvinculação ou renegociação nas bases do acordo ortográfico’”, ainda que, alegadamente, com uma “fundamentação desadequada”.

Longe de nós censurar quem, nas próximas Eleições Legislativas, parece estar à partida indeciso entre o PCP e o PNR: respeitamos sinceramente todas as (in)decisões políticas. Apenas aqui chamamos a atenção para o absurdo que é fazer desta questão o alfa e ómega de um programa político-eleitoral, particularmente numa altura em que, de facto, a nossa soberania está em causa em dimensões muito mais relevantes – bastando, para tal, olhar para a forma como a União Europeia fez capitular a Grécia, apesar de todos os graves erros que o Governo grego cometeu. Mais do que isso, como o “Nós, Cidadãos!” defende: qualquer desejável melhoramento do Acordo Ortográfico deve ser feito de forma concertada. Toda e qualquer iniciativa unilateral será, pois, contraproducente. Como costuma dizer Adriano Moreira: “sendo também nossa, a língua portuguesa já não é apenas nossa”. Agir como se continuasse a ser apenas nossa é que constituiria um erro colossal que poderia pôr realmente em causa o futuro da Língua Portuguesa à escala global.

Presidente do MIL: Movimento Internacional Lusófono, Vice-Presidente do Nós, Cidadãos!

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