Adeus Jenny Diski

Jenny Diski escrevia muito e muito bem. Era irredimivelmente honesta, livre e egoísta.

Morreu Jenny Diski. Anteontem. Ela bem avisou que ia morrer mas habituei-me aos avisos dela assim como me viciei em queixar-me das queixas dela, intermináveis. Pois agora terminaram e já estou arrependido.

O London Review of Books, o mais leal de todas os jornais literários, deu a péssima notícia - "Jenny Diski died this morning" - e ofereceu tudo o que ela escreveu para o LRB. Ao meio-dia em ponto Ian Patterson, com quem ela vivia, referindo-se sempre a ele como The Poet, escreveu no Twitter: "Sad news. My darling Jenny died early this morning".

Jenny Diski escrevia muito e muito bem. Era irredimivelmente honesta, livre e egoísta. Chegava a ser insuportável. Escrevo este louvor dela no espírito agradecido mas ingrato com que ela me conquistou, influenciou e enfureceu.

Antes de morrer Jenny Diski vingou-se do cancro que a matou. Disse sempre a verdade conforme ela a via, como se não pudesse haver outra maneira. E não há.

Desmascarou não só a doença como a atitude e as pessoas e instituições que a ajudaram. Ela mordeu-lhes as mãos. Recusou-se a aprender ou a batalhar ou a ser heróica.

Queixou-se até ao fim. Exigiu sempre melhor. Foi sempre insubmissa, insatisfeita e, sobretudo, inteira.

Pode ser a pior pessoa para nos ensinar a morrer. Mas conseguiu, ao mesmo tempo, ser a pior pessoa para nos ensinar a viver.

Jenny Diski teve a glória de não nos ter ensinado nada, a não ser o direito de não nos diminuirmos perante quem nos ajudou.

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