Abel Barros Baptista

A ironia e a facécia, tal como a distância e a brincadeira, nem sequer são primas. São irmãs e masculinas ao mesmo tempo. É milagre.

Ando a saborear, com dicionários sobre os joelhos, a chamada "trilogia de la espera" de Antonio Di Benedetto, publicada por El Aleph Editores e que contém os romances Zama, El silenciero e Los suicidas. Custa apenas 23,75 euros na Amazon.es. Aproveite, caramba!

Foi-me recomendado pelo meu cada vez maior amigo Carlos Quevedo que, até hoje, nunca me desiludiu. Até porque recomenda pouco. Acerca de tudo o que não for genial ele fecha-se em copas, graças a Deus.

Foi graças a ele, por exemplo, que li tudo o que escreveu Vasily Grossman, o autor — mais genialmente enciclopédico do que genuinamente genial de Vida e Destino. O jornalismo dele é tão bom ou, pelo menos, não pior do que aquele interessantíssimo romance que tem o bom senso de alistar os personagens logo à partida.

Paguei e usufruí. Sou viciado em prazeres gratuitos mas o prazer dos prazeres grátis ainda é novidade para mim. A bela editora Tinta da China mandou-me, de graça, um livro cheio de graça de fazer rir, tremer da mais fina e generosa ironia e agradecer aos céus haver, no meio de tanta merda, escritores que sabem escrever bem e que usam esse super-poder para darem prazer não tanto aos tristes mas aos que já são, injustamente, felizes.

É o caso de Abel Barros Baptista e do livro E assim sucessivamente. Lê-se em duas horas de prazer puro. A ironia e a facécia, tal como a distância e a brincadeira, nem sequer são primas. São irmãs e masculinas ao mesmo tempo. É milagre.

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