À superfície

Gregg Araki entre a sátira social e o drama adolescente.

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Pássaro Branco: entre a sátira social e o drama adolescente DR

O americano Gregg Araki foi um dos nomes de ponta do New Queer Cinema americano dos anos 1990 com títulos como The Living End (1992), The Doom Generation (1995) ou Nowhere (1997).

Mas, ao contrário de contemporâneos seus como Gus van Sant ou Todd Haynes, nunca fez verdadeiramente a “transição” para fora desse gueto, onde se volta a encerrar com “requintes de malvadez” neste peculiar Pássaro Branco. Adaptando um romance da escritora Laura Kasischke sobre o impacto do desaparecimento da mãe (Eva Green) na vida de uma jovem americana como qualquer outra (Shailene Woodley, a heroína da série Divergente), Araki balança entre a sátira social a traço grosso e o drama da crise adolescente num filme que parece, ele próprio, conformar-se à definição que uma das personagens faz de outra: “Raspa-se a superfície e por baixo só há mais superfície.”

A sátira do sonho americano pouco adianta ao que Haynes fizera, em melhor, no seu Longe do Paraíso, tombando não raras vezes numa paródia cansada e pouco original de sitcom (a milhas, por exemplo, da frescura com que Benjamin Crotty o fez em Fort Buchanan). E nem a carismática Eva Green (aqui a afogar a sua sensalidade numa mistura de Fanny Ardant com a Morticia Addams de Anjelica Huston) consegue ancorar o surrealismo trashy da abordagem de Araki. É verdade que, mesmo que Pássaro Branco seja um fracasso, é um fracasso interessante, que procura sair do vulgar de Lineu do filme adolescente e que transporta todas as marcas autorais do cinema de Araki, integrando-se sem problemas numa obra cujo melhor título ainda é Mysterious Skin (2004). O problema é que, depois, são essas mesmas marcas autorais que condenam o filme a uma “terra de ninguém”.

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