A revolução vive

Francisco Castro Rodrigues era um comunista generoso e um revolucionário humanista.

Soube da maneira mais triste que tinha morrido Francisco Castro Rodrigues. Só depois li as notícias de Joana Amaral Cardoso no PÚBLICO e de Dulce Neto na Sábado.

Passávamos em frente à casa dele nas Azenhas do Mar e vimos, no lixo, objectos africanos velhos e partidos. Estava lá uma mulher a ver se se aproveitava qualquer coisa. Com ela estava a filha, simpática, que impedia a mãe de dizer coisas tristes.

"Estas coisas são daquela casa?", perguntámos. "Acho que sim..." "Morreu o senhor que vivia naquela casa, o Francisco Castro Rodrigues?" A mãe respondeu para proteger a filha, mas também adiou a nossa tristeza: "Acho que não..."

A Maria João trouxe um retrato rasgado verticalmente em dois golpes paralelos de uma mulher morena com um ar defendido e violento.

Francisco Castro Henriques nasceu em 1920, no mesmo ano em que nasceram a Amália, o meu pai e o meu sogro, ambos Joaquins. Graças às maravilhosas Eduarda Dionísio e Casa da Achada publicou-se, em 2009, uma obra-prima de memórias carinhosamente instigadas e escolhidas, chamadas Um Cesto de Cerejas.

Francisco Castro Rodrigues era um comunista generoso e um revolucionário humanista. Só o li e vi uma vez. Fez questão de salvar o meu avô paterno, Vicente Esteves Cardoso um juiz conservador mas justo, com um fraquinho pelos comunistas — da reputação autoritária e inflexível que me foi transmitida pelo filho, meu querido pai.

Choro a morte dele, mas agradeço a sorte de tê-lo conhecido.

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