A reinvenção de Bioy Casares no ano do seu centenário

Reedições, conferências, ciclos de cinema, exposições: o escritor argentino a várias dimensões.

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Além de um grande escritor, Bioy Casares foi também um talentoso fotógrafo amador, como mostrará agora uma exposição em Buenos Aires

O centenário do escritor argentino Adolfo Bioy Casares (1914-1999) está a ser assinalado no seu país e em todo o mundo de língua espanhola. Em Espanha, a editora Alianza vai reeditar alguns dos seus títulos mais emblemáticos, como A Invenção de Morel (1940), estranha história de amor cujos protagonistas são um homem e uma mulher que vivem existências incompatíveis em espaços e tempos paralelos, ou A Guerra dos Porcos (1969), que relata um inexplicável surto de violência juvenil contra idosos num bairro de Buenos Aires.

Em Buenos Aires, um ciclo de conferências abordou ao longo dos últimos dias as várias facetas de Bioy Casares: o autor de literatura fantástica, de policiais e de ficção científica, e também o ensaísta ou o notável memorialista que também foi. Enquanto os seus leitores digerem o monumental Borges y Otros Escritos Autobiográficos, postumamente publicado em 2006, há ainda milhares de páginas de diários inéditos. O Borges do título é, claro, o seu amigo Jorge Luis Borges, com quem escreveu meia dúzia de livros em colaboração, incluindo as paródias policiais assinadas pelo pseudónimo colectivo H. Bustos Domecq e protagonizadas por um detective de apelido sugestivo, Don Isidro Parodi, que está na prisão por um crime que pode ou não ter cometido.

Até dia 28, o Museo del Cine, em Buenos Aires, vai exibir um ciclo de filmes baseado em obras de Casares e do outro grande escritor argentino cujo centenário se comemora este ano: Julio Cortázar. O programa chama-se justamente Diálogo de Centenarios e inclui, entre outras obras, Invasión (1969), de Hugo Santiago, com argumento de Bioy Casares, En Memoria de Paulina (1992), de Alejandro Areal Vélez, baseado numa ambígua história de fantasmas incluída na primeira recolha de contos do autor, La Trama Celeste (1948), El Suéño de los Héroes (1997), de Sergio Renán (1997), inspirado no romance homónimo de 1954, e ainda o recente Dormir al Sol (2010), de Alejandro Chomski, que adapta o penúltimo romance do escritor, publicado em 1973.

Mas das muitas dimensões do autor argentino que estão a ser evocadas nestas comemorações do seu centenário – uma espécie de reinvenção de Bioy Casares –, a menos conhecida do grande público é a sua faceta de talentoso fotógrafo amador. No Centro Cultural San Martín, também na capital argentina, a exposição El Lado de la Luz mostra, a partir do dia 25 e até 11 de Outubro, uma extensa selecção de fotografias tiradas por Bioy Casares ao longo da sua vida. Retratos da sua mulher, a autora Silvina Ocampo, e de escritores que fizeram parte do seu círculo de amigos, como Jorge Luis Borges, Julio Cortázar ou a poetisa Alejandra Pizarnik, mas também imagens de Buenos Aires ou instantâneos captados durante as suas viagens, por exemplo a Berlim ou ao Cairo. A exposição é comissariada por Daniel Martino, um dos grandes especialistas na obra de Casares, responsável pela edição crítica das obras completas do autor. 

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