A Irlanda festeja o seu dramaturgo vivo favorito: um festival anual para Brian Friel

Primeira edição do Lughnasa International Friel Festival começa já a 20 de Agosto, entre a Irlanda e a Irlanda do Norte

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Brian Friel não participará no festival, o primeiro a decorrer dos dois lados da fronteira entre a Irlanda e a Irlanda do Norte DR

W. B. Yeats, Oscar Wilde, George Bernard Shaw, Samuel Beckett, Conor McPherson, Martin McDonagh, Frank McGuinness, Sean O’Casey, Enda Walsh, Colm Tóibín… – além de uma nação de escritores, a Irlanda é uma nação de dramaturgos, vivos e mortos, e também o tipo de país que gosta de festejar publicamente os seus tesouros nacionais.

Já era assim com Samuel Beckett, que desde 2012 tem direito ao seu próprio festival em Enniskillen, e agora também vai ser assim com Brian Friel (Omagh, 1929), talvez o maior (e certamente um dos mais misteriosos) dos dramaturgos activos na Irlanda deste início de século. A primeira edição do Lughnasa International Friel Festival, cujo programa acaba de ser anunciado, começa já no dia 20 de Agosto; ao longo de 12 dias, o autor de Philadelphia, Here I Come! (1964), O Fantástico Francis Hardy, Curandeiro (1979), Dançando em Lughnasa (1990) e Molly Sweeney (1994) será celebrado – feito inédito – num acontecimento dividido a meias entre os territórios mais ou menos desavindos da Irlanda (Donegal) e da Irlanda do Norte (Belfast).

Entre os muitos (alguns dos quais bastante inesperados) itens do programa, destaca-se uma nova encenação da mais famosa das peças de Friel (foi adaptada ao cinema em 1998 por Pat O’Connor, com Meryl Streep como Kate Mundy): Dançando em Lughnasa será agora dirigida por Annabelle Comyn, que a levará ao Lyric Theatre Belfast para festejar os 25 anos daquele texto fundador. Mas o festival abre, bem antes disso, do outro lado da fronteira, com uma viagem de barco pelo estuário do Foyle – partida de Magilligan e chegada a Greencastle, onde Friel vive –, a que se seguirá uma série de espectáculos, conferências e concertos evocativos, diz a agência Reuters, da “relação entre o escritor e o seu ambiente”, o mundo algo místico de County Donegal. Depois, entre 27 e 31 de Agosto, o centro do mundo Brian Friel passa a ser Belfast, onde haverá, além de actividades mais canónicas, um festival de comida local e outro de papagaios de papel. Um dos patrocinadores do programa – mais um dado inesperado – é o ex-presidente americano Bill Clinton, admirador inveterado do teatro profundamente irlandês de Brian Friel, cita o The Guardian: “A obra de Friel é um tesouro irlandês à atenção do mundo inteiro. Embora muitas das suas peças se passem na sua pequena cidade natal de Ballybeg, os temas e as questões que nelas explora – identidade, família e conflito – têm um apelo universal. É o seu extraordinário poder de compreender as pessoas, as suas motivações e os seus sonhos, e a consciência que têm de si mesmas e dos outros, que nos faz voltar a Friel incessantemente.” Em Portugal, Friel foi apaixonadamente levado ao palco pela Assédio e apaixonadamente traduzido por um dos fundadores da companhia, Paulo Eduardo Carvalho – quatro das peças do autor irlandês foram reunidas num volume dos Cadernos Dramat co-editados pela Cotovia e pelo Teatro Nacional São João, que em 2000 montou uma inesquecível Operação Brian Friel.

Fiel ao seu desinteresse pelo lado mais mundano da vida pública, Brian Friel, actualmente com 86 anos, não deverá participar no festival, que tal como o Happy Days Enniskillen International Beckett Festival é dirigido por Sean Doran. Na mensagem que enviou à imprensa, de resto, o dramaturgo fez questão de dizer que com ou sem ele o festival está em óptimas mãos: “Se quiserem um festival obediente, convencional e moderadamente divertido, não peçam a Sean Doran que o organize. Vejam o seu Beckett Festival em Enniskillen – é selvagem e imaginativo e criativo e fascinante. Tenho total confiança que ele fará o mesmo com o Friel Festival.”

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Entre os muitos itens do programa do Lughnasa International Friel Festival, destaca-se uma nova encenação da mais famosa das peças de Friel: Dançando em Lughnasa, que será agora dirigida por Annabelle Comyn DR

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