A Feira do Livro

1. Gosto muito da Feira do Livro de Lisboa. O Parque Eduardo VII cheio de gente, a contrastar com o deserto mal iluminado que é habitual nas suas noites. O encontro com escritores de quem gosto e que, salvo algumas excepções, só encontro uma vez por ano. As novas edições, infelizmente quase sempre sem o esperado desconto de feira, que procuro a partir de recensões nos jornais e revistas. A redescoberta de autores esquecidos e agora reeditados, a trazer a recordação de anteriores leituras, ou a permitir ler obras que me tinham escapado. O encontro com os leitores, este ano sobretudo interessados no meu último livro (O Tribunal É o Réu), que me incentivam a continuar e me fazem sugestões de última hora. Os “escritores” que jamais publicarão um livro e me deixam fotocópias de rascunhos de romances inacabados, na esperança de que uma palavra minha, junto de um editor conhecido, venha a ser decisiva para a publicação esperada.

Como sou psiquiatra, não faltam relatos de vidas difíceis, gente triste ou desesperada que procura cinco minutos de atenção no intervalo entre dois autógrafos. Também surgem, quando menos se espera, queixas sobre a falta de acesso aos cuidados em Psiquiatria ou histórias de tratamentos sem sucesso, como se eu, ali sentado como escritor, pudesse ajudar a encontrar um caminho de menor sofrimento. 

Este ano passeei pela feira antes dos autógrafos: muita gente a folhear os livros expostos, certas novidades em destaque nos pavilhões, novos cuidados com os petiscos, preocupações acrescidas com o incentivo à leitura de crianças e jovens (sem que eu possa esquecer como os mais novos que frequentam a feira já estão conquistados para a leitura, enquanto todos os outros continuarão a preferir o calor da praia).

Surpresa excelente foi reencontrar José Cardoso Pires, um dos escritores preferidos da minha juventude, agora em reedições de Francisco Vale, da Relógio d’Água. Louve-se o empenho deste editor em trazer de novo este autor, desconhecido da gente nova. Quando cheguei a casa, fui procurar o meu velho exemplar de Balada da Praia dos Cães — Dissertação sobre Um Crime, que li com encantamento na altura do seu lançamento. Arrumado na estante, lá estava a primeira edição de O Jornal, com a data de Novembro de 1982. Recordo como gostei deste romance de escrita cuidada, baseado num crime de contornos políticos, ocorrido no Portugal salazarista em Abril de 1960, e que deu origem a um julgamento a que a minha mãe assistiu, sem perder uma única sessão.

Recomendo aos leitores os livros que escolhi: Gente Melancolicamente Louca, de Teresa Veiga, admirável contista que me encantou com História da Bela Fria e Uma Aventura Secreta do Marquês de Bradomin, livros infelizmente pouco conhecidos; Todos os Pássaros do Céu, de Evie Wyld, escritora britânica agora aclamada pela crítica; e Tudo o Que Conta, de James Salter, finalmente traduzido em português.

Quando esta crónica sair, ainda tem uma semana para ir à Feira do Livro de Lisboa!

2. Embora muitos dos meus leitores não gostem de futebol e não sejam sportinguistas, não quero deixar de assinalar a vitória do Sporting na Taça de Portugal. Foi uma final emocionante, um espectáculo inesquecível: quando tudo parecia decidido, o Sporting recuperou dois golos e acabou por vencer no desempate por grandes penalidades.

É esta a chamada “magia do futebol”, que faz vibrar tanta gente, como aconteceu em Alvalade a 31 de Maio.

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