A condição feminina

A francesa Céline Sciamma vira de cabeça para baixo o filme de subúrbio: basta para isso recusar a condescendência.

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Bando de Raparigas é um filme de descoberta e de criação de uma identidade DR

Costuma dizer-se “à terceira é de vez”. E, ao terceiro filme, a francesa Céline Sciamma arranca uma das obras mais inteligentes e certeiras que vemos este ano, naquela que é também a sua estreia em salas portuguesas (às quais Naissance des Pieuvres, de 2007, e Maria-Rapaz, de 2011, nunca chegaram, o último tendo ido directo para video).

Subversão procurada e inteligentíssima do “filme-manifesto social”, Bando de Raparigas recusa toda e qualquer condescendência no seu retrato de uma adolescente dos subúrbios parisienses cuja timidez esconde uma determinação brutal a escapar à condição a que o “sistema” parece querer condená-la — condição feminina, condição africana, condição de cidadã “de segunda classe” sem futuro nem saída.

Bando de Raparigas

 é um filme de descoberta e de criação de uma identidade, de uma miúda que se faz mulher à nossa frente, contado com uma energia e uma sensibilidade que viram de cabeça para baixo todos os lugares-comuns a que o cinema social costuma prestar-se. Bastaria a célebre cena do hotel ao som de Rihanna para nos convencer, mas este é um filme que faz sentido como um todo inesgotável.

 

 

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