A classe de Sinkane

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O timbre em falseto de Sinkane dá uma espécie de fio condutor a este disco que vai do funk digital a variações da country

Deve ser grandinha e variada, a fonoteca particular do sudanês Ahmed Gallab, a avaliar pela variedade sonora de Mean Love: no intervalo de dez canções, ele consegue passar por um funk digital estilhaçado (How we be), uma derivação lenta do afro-beat (New name), pastiches de Stevie Wonder (Yacha), reggae (Young trouble), bossa-nova cantada em francês (Moonstock), variações da country (a faixa-título e Galley boys) e personificações de Sade (Hold tight e Sun). Já era assim na banda a que pertencia, os Yearsayer, mas agora procurando de forma mais deliberada o formato-canção. 

Apesar da amplitude de géneros, o timbre em falseto acaba por conferir uma espécie de fio condutor — um crooning efeminado, por assim dizer — a estes retalhos que pintam a manta tanto nos seus momentos mais inesperados e inventivos (How we beNew nameMoonstock), como nas estranhas revisitações de clássicos, sejam os momentos country ou, e em particular, as reencarnações de Sade — tudo temas que, num mundo minimamente racional, seriam singles de eleição. Um par de faixas menos conseguidas não diminui a classe com que este rapaz se espraia pelos mais diferentes registos, sempre à procura da melodia melancólica de encantar.

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