Festival de Almada homenageia o “mestre do teatro” Luis Miguel Cintra

Uma das novidades deste ano é o curso de Verão O Sentido dos Mestres dado pelo actor, encenador e fundador da Cornucópia

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Paisagem Desconhecida, de Josef Nadj
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Luis Miguel Cintra e Luísa Cruz em Íon

Luis Miguel Cintra é a personalidade homenageada pelo 31.º Festival de Almada e vai dar cinco aulas sobre a sua experiência em teatro. O festival que acontece de 4 a 18 de Julho em Almada e Lisboa apresenta 30 peças e seis são criações próprias. Entre elas está a estreia mundial de Paisagem Desconhecida, do coreógrafo francês Josef Nadj.

A escolha do actor e encenador Luis Miguel Cintra para ser o homenageado no 30.º aniversário do Festival de Almada — é a 31.ª edição, mas o primeiro ano conta como ano zero — pareceu “natural” ao próprio, já que “alguma coisa deve ter feito pelo teatro em Portugal”, disse na conferência de apresentação do festival, esta sexta-feira no Teatro Municipal Joaquim Benite, em Almada. A homenagem será feita através de uma exposição na Escola D. António da Costa, daquela cidade, da projecção de um conjunto de filmes em que participou e que ele próprio vai apresentar, e também na inauguração do curso de Verão O Sentido dos Mestres, que tem a sua primeira edição.

“É um mestre de teatro. É o meu mestre enquanto sou seu espectador”, diz Rodrigo Francisco, director do Festival e da Companhia de Teatro de Almada (CTA), para justificar a escolha do fundador do Teatro da Cornucópia para ser o primeiro a protagonizar O Sentido dos Mestres. Nas cinco conversas com alunos e profissionais do teatro, Luis Miguel Cintra não quer “formar ninguém”, mas espera poder levantar questões pertinentes, diz. Este programa vai repetir-se pelo menos nas próximas três edições do Festival de Almada, trazendo criadores internacionais de teatro.

Frisando que este “não é um festival temático” porque não quer “afastar ninguém, mas sim ser para todas as pessoas”, Rodrigo Francisco diz ter uma programação “ecléctica” em que o critério é “mostrar o que se faz de tecnicamente bom em todo mundo”. A programação organiza-se em criações do festival, programação portuguesa, programação estrangeira, programação de teatro de rua e o ciclo O Novíssimo Teatro Argentino.

O coreógrafo francês Josef Nadj apresenta pela primeira vez Paisagem Desconhecida, no Teatro Nacional D. Maria II, a 16 de 17 de Julho. A peça apresenta dois bailarinos e dois músicos e inspira-se nas paisagens da ex-Jugoslávia, onde Nadj nasceu, para encenar a transformação que o homem provoca na paisagem. Para Rodrigo Francisco a estreia mundial deste espectáculo em Portugal é por si “um acontecimento”.

Para além desta, nas criações do festival, que por serem estreias são sempre “um risco” que o director artístico diz querer correr, estão ainda Cais Oeste, da CTA, Círculo de Transformação em Espelho, do Teatro Oficina, Os Negros e os Deuses do Norte, de João Garcia Miguel, Canções i Comentários, de Rui Catalão e Libretto, de Jacinto Lucas Pires e Alma Palacios.

Na programação internacional, o Rei Ubu, do inglês Alfred Jarry, apresenta na escola D. António da Costa a 14 de Julho, o olhar de um adolescente sobre os problemas escondidos da sua família burguesa. É “um precursor do teatro absurdo e um dos destaques deste ano”, disse Rodrigo Francisco na conferência de imprensa. Destacam-se ainda os espectáculos de abertura e encerramento na mesma escola, ambos italianos sobre a morte: o primeiro é Orquídeas, da companhia Pippo Delbono, e o último, As irmãs Macaluso, de Emma Dante.

A programação portuguesa traz a Almada, ao Teatro Municipal Joaquim Benite, a 15 de Julho, Íon, do Teatro da Cornucópia, que vai ao encontro da homenagem a Cintra, encenador e actor desta produção. Há ainda, entre outras, Ode Marítima, de Natália Luíza com Diogo Infante e João Gil, Almada de Quarentena, que celebra os quarenta anos de O Bando e a leitura de todos os cantos de Os Lusíadas, no último dia, por António Fonseca, que os memorizou.

À semelhança do que aconteceu na edição passada, uma das secções deste ano volta a focar-se no teatro produzido numa região estrangeira — desta vez, a Argentina. “Conheci estes criadores de 30 anos numa viagem à Argentina e vi como trabalham em condições difíceis — mais do que as nossas. Ainda assim conseguem atingir um patamar de qualidade acima de muito do que se faz cá”, conta o director artístico do festival.

O orçamento aumentou mais 30 mil euros do que na edição anterior, num total de 557 mil euros. A Câmara Municipal de Almada financia o projecto em 215 mil euros e a Direcção-Geral das Artes em 190 mil, sendo o restante resultado de parcerias, patrocínios e receitas próprias. Com o aumento deste investimento, Rodrigo Francisco espera também poder aumentar o número de espectadores que o ano passado foi de 27 mil.     

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