O insólito de Gusmão e Paiva no Museu do Chiado

O insólito e o burlesco são constantes nos trabalhos apresentados pela dupla na sua primeira exposição num museu

São os artistas mais jovens a expor no Museu do Chiado, em Lisboa, depois de, em 2003, João Onofre, então com 27 anos, ter sido convidado a fazer uma revisão do seu percurso até à data. João Maria Gusmão e Pedro Paiva, que foram colegas na Faculdade de Belas-Artes de Lisboa e que trabalham em dupla desde 2001, têm, respectivamente, 25 e 27 anos. Depois de algumas exposições em espaços ditos alternativos, como a Galeria Zé dos Bois, em Lisboa, e o Artes em Partes, no Porto, tiveram há apenas cinco meses uma primeira individual na galeria que os representa, a Graça Brandão. Ao mesmo tempo, venceram o Prémio EDP Novos Artistas de 2004. Agora, mostram um conjunto de sete trabalhos inéditos e realizados ao longo do último ano especificamente para a exposição no museu.
Intitulada Intrusão: The Red Square, a mostra reúne quatro trabalhos de fotografia e dois em filme, que têm sido os suportes de eleição da dupla, mas também uma projecção de 19 diapositivos. O insólito, de resultados frequentemente humorísticos, é uma constante. Decorre de um confronto calculado entre o real e o virtual, o documental e a ficção - o plano de operação são os abismos de tom burlesco que se abrem no choque entre essas esferas.
Há propostas para Como Desviar o Eixo da Terra atravessando-a com uma vara (filme), um Duelo de guarda-chuva em punho e explosão titânica em pano de fundo (filme) e um Hipnotizador com mergulho mise en abîme em sucessivas imagens dentro da imagem onde se sugere um OVNI escondido com rabo de fora (fotografia).
Pedro Lapa, o director do museu e comissário da exposição, lança uma pergunta: "Depois de tantos trabalhos de luto dominando até ao limite o contexto artístico, seremos capazes de descobrir no riso e no jogo um acto de vontade e afirmação estética?" É essa a proposta, com um desafio para os artistas: um primeiro confronto com uma exposição num museu, um "espaço de profissionalização".
"Aquilo que fizemos foi tentar desenhar uma exposição que ficasse fechada, com peças que encaixam umas nas outras", explicavam ontem os artistas, depois de uma visita à exposição que foi inaugurada também ontem e que hoje abre ao público.
O trabalho da dupla fixa recorrentemente personagens masculinas de energias ambíguas em zonas inóspitas da paisagem portuguesa. Exploram, ou confrontam-se, frequentemente com aspectos fenomenológicos quer da natureza, quer de realidades simuladas pelos artistas a partir do imaginário colectivo.
Segundo eles, a relação com o fenómeno natural procura o infinitamente grande como elemento desestruturante da figura humana, que surge infinitamente pequena. Ou seja: há, por um lado, as megaforças e, por outro, a medida humana. "Há sempre qualquer coisa de paradoxal, ao trabalhar uma ficção desta ordem, desestruturante do teu ser, e propondo-te construir um pensamento que tenha uma afirmação", dizem.

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