Casino processa Elton John

Na quarta-feira à noite, Elton John deveria ter actuado no Casino do Estoril, mas abandonou a sala 15 minutos antes, deixando 1200 pessoas à espera. A organização só quer que o músico "não esqueça nunca" a noite de anteontem e vai mover uma acção judicial em Inglaterra exigindo indemnização pelo "acto de desrespeito que esse senhor cometeu".

"Vamos levar este assunto muito a sério e fazer com que Sir Elton John não esqueça nunca a noite de ontem [quarta-feira], como nós também não esqueceremos." Mário Assis Ferreira, administrador do Casino do Estoril, convocou ontem à tarde uma conferência da imprensa para justificar o cancelamento do concerto de Elton John previsto para a noite anterior e anunciar que irá apresentar em Inglaterra uma acção judicial de indemnização de perdas e danos contra o cantor. Segundo Assis Ferreira, Elton John terá abandonado o Salão Preto e Prata do Casino do Estoril, às 22h45, a 15 minutos da hora marcada para o começo do concerto, comunicando ao seu "manager" "que estava indisposto e ia dar uma volta de automóvel, voltando daí a 15 minutos". Só que o músico nunca mais regressou, apesar do "cachet" de 70 mil contos ter sido inteiramente pago, e, segundo o administrador do casino, ter-se-á dirigido para o seu avião particular, partindo rumo a Nice.Os responsáveis discográficos da Polygram em Londres e Lisboa e o "road manager" de Elton John justificaram ontem de manhã que o cancelamento se deveu a "problemas de natureza íntima e pessoal que impossibilitaram o cantor de dar o espectáculo à última hora", propondo novo concerto para 3 ou 4 de Novembro. Hipótese que a administração do Casino do Estoril rejeitou, "na medida em que a afronta feita excede os limites aceites". A menos que o cantor apresente "um pedido de desculpas ao Casino do Estoril e ao público português", acrescentou Mário Assis Ferreira, garantindo que, "de preferência, nunca mais gostaria de ver Sir Elton John na vida". Como no tema "Candle in the Wind", Elton John esfumou-se qual vela ao vento, deixando 1200 pessoas à espera no Salão Preto e Prata, com capacidade para 750 lugares - "Tivemos que fazer mesas estreitíssimas", disse o secretário-geral do Casino do Estoril, Lima de Carvalho, em declarações ao PÚBLICO. "Nunca tivemos uma plateia tão cheia de gente importante, entre ministros, banqueiros e directores de jornais". Os bilhetes para o espectáculo custavam 50 mil escudos e, apesar dos rumores de que a maior parte da plateia teria recebido convite, Assis Ferreira afirmou ontem que "mais de metade das pessoas" iriam ser reembolsadas. Adiantou ainda que, a haver novo concerto no casino - se o perdão de Elton John "for suficientemente justificativo e desculpabilizante" -, "convidaria as pessoas que pagaram bilhete a assistir gratuitamente". Apesar do "cachet" ter sido integralmente pago, a administração do Casino do Estoril deu instruções bancárias entre as 23h30 e a meia-noite de quarta-feira para congelar, pelo menos, metade do montante. Segundo Assis Ferreira, a acção judicial irá ser apresentada o mais brevemente possível, não adiantando a quantia pretendida na indemnização, que "não se pode traduzir apenas em danos económicos". E rematou: "Vamos ser muito exigentes em relação ao montante da indemnização."Com visível irritação e ironia, Assis Ferreira explicou ainda que o piano de Elton John - no final da conferência, designá-lo-ia por "traquitanas" do cantor - foi despejado do salão do casino ontem de manhã e colocado na rua. "Não queremos mais negociações com esse senhor", disse, revelando um exemplar do seguro individual de Elton John para a curta estadia em Portugal, no valor de 3.300 contos. "Foi um balde de água fria para a administração do casino", confessou Lima de Carvalho. "Já trouxemos mais de 100 artistas de todo o mundo e nunca houve problema nenhum." Assis Ferreira confirma: "Na história do casino, este é um episódio inédito, creio que na de Elton John não será."

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