Álvaro Siza entra na colecção do MoMA, em Nova Iorque

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O museu em Porto Alegre (as duas imagens em cima e a ao lado) e a maqueta do bairro de S. Victor no Porto (abaixo), dois dos projectos de Siza que vão entrar na colecção do MoMA DR

Arquitecto português terá a sua obra representada com três projectos: Museu Iberê Camargo, no Brasil, o bairro de habitação de São Victor, no Porto, e o Banco Pinto & Sotto Mayor, em Oliveira de Azeméis

O Museu de Arte Moderna de Nova Iorque (MoMA) comprou três projectos de Álvaro Siza para a sua colecção. É a primeira vez que um arquitecto português vai estar representado numa colecção que tem privilegiado sobretudo arquitectos americanos ou com obra nos Estados Unidos - o que não é o caso de Siza.

As aquisições, que foram aprovadas esta quinta-feira no MoMA, consistem em projectos de início de carreira, mas também uma obra mais recente como o Museu Iberê Camargo, em Porto Alegre, no Brasil, inaugurado em 2008. O museu nova-iorquino adquiriu 21 desenhos e uma maqueta do Iberê Camargo, que considera representativo da "maturidade total do estilo pessoal de Siza" e que é "um edifício de destaque na obra de Siza, bem como na arquitectura do século XXI em geral", lê-se no press release enviado ao PÚBLICO.

As aquisições incluem também 30 desenhos, 21 fotografias, uma maqueta e brochura do projecto de habitação de São Victor, no Porto, representativo da produção arquitectónica do período revolucionário no pós-25 de Abril. Foi projectado e construído entre 1974 e 1977, no âmbito das operações SAAL (Serviço de Apoio Ambulatório Local), que mobilizaram vários arquitectos portugueses para oferecer melhores condições de habitação a populações carenciadas.

Por fim, o MoMA adquiriu também 33 desenhos e 14 fotografias do edifício do Banco Pinto & Sotto Mayor em Oliveira de Azeméis, projectado e construído entre 1971 e 1974. O comunicado do MoMA descreve-o como "um dos mais elaborados e refinados exemplos da abordagem experimental deste mestre".

A entrada de Álvaro Siza na colecção do MoMA significa não só que os seus projectos poderão fazer parte de exposições futuras no museu, mas também que o estudo da sua obra terá de passar por Nova Iorque.

O arquitecto tinha agendada uma conferência no MoMA na última sexta-feira, para anunciar formalmente a aquisição, mas o evento foi cancelado à última hora, depois de Álvaro Siza ter sofrido um acidente inesperado e ter partido um braço - mas o arquitecto está já a recuperar em casa, depois de ter sido operado. O MoMA planeia reagendar a conferência para Setembro.

Gadanho foi o "facilitador"

A aquisição dos projectos coincide com a chegada do arquitecto português Pedro Gadanho ao MoMA, onde é curador de arquitectura desde Janeiro. Numa entrevista ao PÚBLICO em Março, Gadanho disse que quando começou a conhecer a colecção, foi "uma surpresa" ver que Álvaro Siza não estava representado. O curador foi o intermediário - "facilitador", como ele diz - entre o museu nova-iorquino e Álvaro Siza, mas rejeita a ideia de que possa ter sido movido por preferências nacionais, ou que "pudesse haver pruridos" por ele ser português. Álvaro Siza, diz, "está tão reconhecido a nível internacional que não se coloca esse problema". Pedro Gadanho nota ainda que, em tempos, o chefe do departamento de arquitectura do MoMA, Barry Bergdoll, já tinha enviado uma carta de intenções ao arquitecto português.

A aquisição dos projectos para o museu nova-iorquino vai ser financiada por doadores: Jorge Gerdau, empresário brasileiro e presidente da Fundação Iberê Camargo, irá cobrir o valor do projecto do museu com o mesmo nome; Ed Cruz, construtor de origem portuguesa com actividade na área de Nova Iorque e New Jersey, "oferece" o projecto do Banco Pinto & Sotto Mayor. O mecenas da terceira aquisição ainda está em discussão, segundo Pedro Gadanho.

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