Hugo Canoilas é um bandeirante, o único português em São Paulo

Foto
Canoilas reproduzirá os percursos exploratórios dos bandeirantes do século XVI RUI GAUDÊNCIO

Sem indicação sobre se Portugal apoiará a participação do artista, a Bienal de São Paulo poderá vir a custear o seu projecto

Uma edição da Bienal de São Paulo sem perfume de polémica? Nunca. À 30.ª edição, a segunda mais antiga bienal de arte do mundo passou por tudo, de mudanças na administração e presidência a investigações judiciais por desvios financeiros passados e congelamento de contas. Por três meses, já este ano, achou-se que não aconteceria, mas vai para a frente. Inaugura-se a 7 de Setembro. Com menos artistas do que é hábito - 110, em vez dos 150 a 160 - e um orçamento geral de 21 milhões de reais (8,4 milhões de euros), cerca de metade dos quais para produção de obras.

Segundo Rudolfo Viana, director superintendente (adjunto da presidência), é deste último bolo que poderá vir a sair o financiamento para a participação de Hugo Canoilas, o único artista português este ano escolhido para a bienal. Isto, caso Portugal não disponibilize verbas próprias.

Depois de na última edição, em 2010, a Direcção-Geral das Artes (DGA) ter apoiado, de diferentes formas, a presença de cinco artistas portugueses ou ligados a Portugal - Pedro Barateiro, Pedro Costa, Filipa César, Carlos Bunga, Maria Lusitano, Yonamine e Kiluanji Kia Henda -, a bienal não tinha até ontem qualquer indicação de apoio à participação de Canoilas. Contactadas pelo PÚBLICO, tanto a DGA como a Secretaria de Estado da Cultura (SEC) recusaram comentar a participação portuguesa. A SEC, através do assessor de imprensa João Villalobos, remeteu para a próxima semana eventuais declarações.

Sem destino final

Hugo Canoilas (n. Lisboa 1977), que vive e trabalha em Portugal e na Áustria, deverá chegar a São Paulo no início de Junho para começar a trabalhar na peça ou peças que apresentará na Casa dos Bandeirantes, um dos satélites da bienal, cujo corpo central será, como é hábito, no Parque Ibirapuera.

Ainda sem uma ideia fechada sobre o formato que assumirá a sua participação, começará por encetar um périplo alusivo aos percursos dos bandeirantes, os sertanistas que desde início do século XVI foram partindo de São Paulo rumo ao interior, em busca de minérios.

Do litoral para o interior, pois: ao longo do seu percurso "sem destino final" Canoilas recolherá imagens, objectos e impressões, cruzando esses materiais com textos da poesia e antropologia brasileira que, ao longo da viagem, projectará na paisagem para registos fotográficos.

"Não me foi pedido nada específico", explica o artista. Mas a peça que apresentou na exposição Povo, na EDP, em 2010, será "a base e inspiração" para uma reflexão sobre "o espaço entre o que se nomeia ou se dá a ver e o que está lá", mais profundamente, na obra.

Segundo Rudolfo Viana, a produção deste projecto deverá rondar os 60 mil reais (24 mil euros). A DGA tem estado "bastante inactiva" no processo, diz este responsável, mas a bienal espera vir a ter alguma resposta e poder contar também com o apoio do consulado português em São Paulo, nomeadamente para a estadia do artista na cidade.

Com comissariado do venezuelano Luis Pérez-Oramas, que decidiu não convidar artistas que tivessem participado em qualquer das últimas três edições, assume-se este ano também uma preponderância intencional de artistas latinos (50, mais 23 brasileiros), num "exercício de inversão de lógicas" habituais. Apresentar-se-ão sobretudo obras produzidas especificamente para a bienal (60% dos trabalhos) que tem como tema geral A Imanência das Poéticas.

Sugerir correcção