Vento de Miyazaki

Vertigem nos sonhos do realizador japonês apresentada no 70.º Festival de Veneza

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É olímpica a vertigem nos sonhos de Hayao Miyazaki, onde há máquinas a voar e máquinas de guerra. Traz consigo a possibilidade de destruição. Esta vibração que existe em todo o cinema do japonês, uma sensação de perigo perante a beleza, é explicitada em The Wind Rises (competição), filme em que a aeronáutica inventa máquinas de guerra: aqui se ficciona a biografia de Jiro Horikoshi, que desenharia um avião que os japoneses utilizaram na II Guerra Mundial.

Se se pode perguntar se um filme de animação na competição dos festivais está a ocupar as vagas de uma quota, pode-se responder que a vibração cinematográfica em Miyazaki é feroz e que mais dificilmente se percebe a inclusão de Parkland, de Peter Landesman: estamos em pleno território normalizador do telefilme, a (re)conhecer as personagens que ficaram na sombra na altura dos assassinatos de John Fitzgerarld Kennedy e do seu assassino Lee Harvey Oswald, desde detectives aos médicos e enfermeiras que receberam os corpos no hospital (Parkland, título do filme). 

É o tipo de objecto que vampiriza uma data e ela vem aí, 22 de Novembro. Foi em 1963. Já para arrumar Miss Violence, do grego Alexandros Avranas, pode-se recordar um dos primeiros filmes do concurso, The Police Officer’s Wife, de Philip Groning: à arte da imersão, numa situação de violência familiar, do filme alemão, segue-se agora a estratégia bastante duvidosa de Avranas, que manipula as suas marionetas para melhor chegar a um efeito de brutalidade e de choque. Que o próprio filme involuntariamente sabota, porque Avranas está sempre a denunciar-se. 

 
 
 
 
 

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