Unesco reconhece ser difícil proteger património cultural em zonas de conflito

Pilhagens e tráfico arqueológico entre as principais preocupações no contexto de conflitos armados, como no Mali e Síria, com custos que podem ascender a cinco milhões de euros.

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Santuário na cidade de Timbuktu, Mali

A directora geral da Unesco, Irina Bokova, visitou no sábado passado o Mali com o Presidente francês François Hollande esta sexta-feira reiterou o compromisso da entidade em proteger e reconstruir as relíquias culturais do país.

De acordo com Irina Bokova, o custo da reconstrução de túmulos e mausoléus destruídos varia entre quatro e cinco milhões de euros. De acordo com os relatos da imprensa, quando os radicais islâmicos abandonaram a cidade de Tombuctu, no Mali, incendiaram o edifício onde estavam guardados milhares de precisos manuscritos, de valor incalculável.

Mas não é apenas o Mali que preocupa a Unesco. A Síria é outro caso em observação, como foram há algum tempo também a Líbia e o Iraque. A avaliação da Unesco é clara: tem meios limitados para proteger os locais culturais ameaçados, não tanto pela sua possível destruição, mas sim pelas pilhagens e pelo tráfico arqueológico. Na teoria, os beligerantes, signatários da convenção de Haia de 1954 para a protecção de bens culturais em caso de conflito armado, têm de fazer todos os possíveis para preservar o património contra a devastação da guerra. Mas a prática é mais complexa. “Como proteger o património na Síria? Não é possível, não temos a força suficiente”, constatou sexta-feira a directora da Unesco.

No caso do Mali, o Conselho de Segurança da ONU, que incluiu a protecção do património nas resoluções adoptadas, foi avisado da situação de risco no país. E pela primeira vez o Tribunal Penal Internacional qualificou como “crime de guerra” a destruição dos mausoléus de Tombuctu, podendo vir agora a abrir um inquérito para identificar os autores do delito.

Para a responsável da Unesco, os momentos de perda de controlo dos estados são os mais perigosos para o património, como aconteceu nas pilhagens aos museus de Bagdad em 2003 e no Cairo em 2011. Por outro lado, a desestabilização dos governos contribui também para a activação de redes de contrabando internacionais.

O tráfico de bens culturais já representa entre 4,4 e 5,9 milhões de dólares por ano, sendo uma indústria criminosa estruturada como o tráfico de drogas ou armas. Na Líbia, o episódio mais grave foi o desaparecimento do Tesouro de Benghazi, 8000 peças de ouro do período helénico roubadas de um banco em Benghazi.

Agora, a Unesco tenta que situações análogas não aconteçam na Síria, organizando cursos de formação sobre protecção de museus, mas com a consciência que é muito difícil proteger o património cultural em zonas de conflito.
 

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