Um aquecimento dentro do aquecimento na primeira noite do Warm-up Paredes de Coura

Os No Age atiraram-se aos braços do público, que antes ouviu a pop dos Everything Everything, o indie dos The Wedding Present, o rock dos Veronica Falls e o português dos Capitão Fausto

Os Everything Everything na primeira noite do Warm Up do festival de Paredes de Coura
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Os Everything Everything na primeira noite do Warm Up do festival de Paredes de Coura Paulo Pimenta
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Veronica Falls também actuaram na na Praça D. João I, no Porto Paulo Pimenta
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Os históricos ingleses The Wedding Present Paulo Pimenta
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O Warm Up continua este sábado à noite, com Lee Ranaldo, entre outros Paulo Pimenta
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Os No Age conseguiram animar uma noite morna Paulo Pimenta
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A genealogia hardcore dos No Age notou-se em palco Paulo Pimenta
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The Wedding Present na tenda do Warm Up do Vodafone Paredes de Coura, no Porto Paulo Pimenta

Um rapaz sobe sorrateiramente para o palco, qual ninja especialista em rock ’n’ roll. Um segurança de grandes proporções surge, vindo do outro lado do palco, e impede que o concerto dos No Age se torne aquilo que seria se estivéssemos numa sala pequena e não num festival. “Acabou-se a brincadeira”, parecia dizer o segurança só com a cara. A banda não gostou. “They’re our friends”, atirou o guitarrista, Randy Randall, que haveria de se entregar aos braços do povo adolescente das primeiras filas. Foi só na recta final que a primeira noite do Warm-up Vodafone Paredes de Coura saiu do guião morno em que estava metida.

Sem serem brilhantes (como foram, por exemplo, na edição de 2011 do festival de Paredes de Coura), os No Age deram, sexta-feira, na Praça D. João I, no Porto, mais algumas razões para acreditar no futuro (no presente) desta coisa chamada “rock ’n’ roll". Trazem a agressão e a economia de meios dos dias dourados do hardcore americano para um mundo em que o estranho se tornou norma – desta maneira, trocaram as voltas ao hardcore e ao estranho (são deliciosamente inclassificáveis).

Para o Porto, o duo de Los Angeles levou canções novas, mas exagerou na dose. A maioria dos novos temas não funcionou da melhor maneira em palco, a que não serão inocentes as condições acústicas pouco cristalinas que prejudicaram vários concertos da noite. Ouvimos uma canção que lembra o que fariam os Hüsker Dü se despedissem o baterista e se ficassem por uma bateria pré-gravada em regime de serviços mínimos. Melhor foi Fever Dreaming (2010), pancadaria punk rock num pesadelo shoegaze. O povo das primeiras filas gostou e respondeu com mosh.

Antes, os Everything Everything fizeram algo radicalmente diferente. Se os No Age são o exemplo acabado de como três acordes bastam para fazer uma cantiga (e, com sorte, mudar algumas vidas), os britânicos preferem atirar a todo o lado.

Sabem fazer muitas coisas: pilhar as piruetas vocais dos Vampire Weekend (algo evidente em Cough Cough, um dos singles do último álbum, que abriu o concerto), mesmo que sem a graça dos nova-iorquinos; manusear o ritmo; evocar os teclados 80’s que a chillwave recuperou e relegitimou; meter guitarras funk branco no meio desta salada. Sabem fazer isto tudo, mas não sabem ainda muito bem o que fazer com tantas ideias. No máximo, conseguem produzir canções pop eficazes, mas esquecíveis.

A noite teve ainda uma viagem ao indie rock clássico dos históricos ingleses The Wedding Present (duas guitarras, uma fobia saudável aos solos, rock depurado de artifícios, que passou despercebido para a maioria dos presentes), o rock certinho dos Veronica Falls e, na abertura, ainda com o sol a mostrar-se fora da tenda, os portugueses Capitão Fausto a dar bons sinais para o futuro.

Uma noite que foi um aquecimento num aquecimento: talvez este sábado, com Omar Souleyman e Lee Ranaldo em destaque, o Warm-up seja mais proveitoso.

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