Apesar de a notícia que não queríamos ouvir, a de que os Sonic Youth entrariam em hiato após a separação de Thurston Moore e Kim Gordon, ter chegado no final de 2011, temos sido afortunados. Desde então, a baixista da histórica banda nova-iorquina já nos visitou um par de vezes. Desde então, o guitarrista tem sido presença regular em palcos portugueses.

Vimo-lo fiel ao seu perfil de melómano eternamente curioso, quase juvenil no seu entusiasmo, mas com a sabedoria de quem atravessou três décadas no centro do furacão da música popular urbana. Vamos ver Thurston Moore novamente. Hoje no Clubbing da Casa da Música, que tem nos Sun Kill Moon de Mark Kozelek, no momento em que editam o bem recebido Benji, o outro destaque (a partir das 22h, 12€), e amanhã em matiné na Galeria Zé dos Bois, concerto que terá também no alinhamento os Control Unit, duo de Brooklyn que recontextualiza para os nosso tempos a herança da no wave (18h; 12€).

Desde a paragem dos Sonic Youth, ouvimos Thurston Moore mostrar-nos as canções de base acústica de Demolished Thoughts, vimo-lo em sessão de música improvisada, em modo trio, acompanhado pelo baterista Gabriel Ferrandini e pelo saxofonista Pedro Sousa. Desta vez, estaremos mais perto de tocar o céu Sonic Youth. Thurston Moore não vem sozinho. Também viajam para Portugal o guitarrista James Sedwards e Steve Shelley – esse mesmo, o baterista histórico da banda de Daydream Nation. O que resultará do encontro? Moore tem tocado na Europa com Sedwards, estabelecendo diálogos em aberto, do cristalino à sugestão de corrosão, com voz preparada para se juntar às guitarras a todo o momento. Formado um trio com a chegada de Shelley (que também integra os Sun Kill Moon) crescerá a intensidade do conjunto – e a carga simbólica: afinal, estarão dois quartos dos Sonic Youth em palco.

Depois da edição de Demolished Toughts, álbum de delicadezas acústicas engrandecidas por harpa ou violino, Thurston Moore criou os Chelsea Light Moving, que, apesar de contarem com dois dos músicos que o acompanharam na digressão dedicada ao álbum anterior, Keith Wood, dos Hush Harbors, e Samara Lubelski, cantautora e multi-instrumentista, têm uma natureza diferente: são como que regresso ao ruído e agressividade do punk, como ouvimos no álbum homónimo editado o ano passado. Agora, com Steve Shelley e James Sedwards, nova experiência de Thurston Moore, antes da edição em Junho do álbum que gravam em conjunto, Detonation – o desejo de descoberta faz parte da sua natureza.

No Clubbing da Casa da Música, cujo cartaz inclui Emperor X, ou seja, o americano Chad R. Matheny, ou os Calhau!, ou seja, o duo Marta Ângela e João Alves, músicos que são também, até à indefinição, artistas visuais, veremos ainda os Sun Kil Moon, o projecto pós-Red House Painters de Mark Kozelek (actua às 23h, uma hora e meia antes de Thurston Moore). Trará consigo as canções do recentemente editado Benji, disco autobiográfico com a morte como fio condutor de todas as narrativas.