Teatro Real de Madrid despede Mortier e contrata Matabosch

Declarações públicas do director artístico cessante, criticando a escolha de um sucessor espanhol, irritaram o governo de Madrid e apressaram a sua saída

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A polémica pública em torno sucessão do belga Gerard Mortier na direcção artística do Teatro Real de Madrid chegou esta quarta-feira ao seu epílogo com o despedimento do actual director e a contratação, com efeito imediato, de Joan Matabosch, que deixará a direcção do Gran Teatro del Liceo, em Barcelona.

Mortier, cujo contrato terminava em 2016, e que entretanto suspendeu funções para se tratar, na Alemanha, a um cancro no pâncreas, tentou que o seu sucessor fosse alguém que considerasse sintonizado com o projecto que vem desenvolvendo desde 2010 no teatro de ópera da capital espanhola. O belga, que é um dos gestores culturais mais conhecidos e admirados na área da música, propôs seis nomes à administração do Teatro Real, todos eles estrangeiros, e chegou a ter reuniões de trabalho com alguns dos candidatos. Mas o seu propósito de condicionar a sucessão viria a ser frustrado quando o ministério espanhol da Cultura determinou que o próximo director artístico teria de ser um espanhol.

Mortier não gostou e desdobrou-se em declarações aos jornais, afirmando que lhe parecia “ridículo” o governo espanhol impor como critério a nacionalidade e ameaçando abandonar o Teatro Real antes do previsto.

O executivo espanhol também não terá apreciado as suas declarações, que provavelmente apressaram a decisão agora tomada: despedir com efeitos imediatos o actual director e contratar Joan Matabosh, que vinha sendo dado como o candidato mais bem posicionado para suceder a Mortier.

Segundo o jornal El País, a contratação de Matabosh, que continuará a colaborar com o Liceo de Barcelona até o teatro catalão encontrar uma alternativa adequada, enfrentou algumas complicações de última hora, com divergências entre o presidente da administração do Teatro Real, Gregorio Marañón, e o secretário de Estado da Cultura, José María Lassalle, que sempre defenderam a solução Matabosch, e o ministro da Cultura, José Ignacio Wert, que terá tentado impor uma espécie de direcção bicéfala, com o compositor Pedro Halffter a assegurar a direcção musical.  

Num comunicado enviado à imprensa, a Comissão Executiva do Teatro Real anuncia ter autorizado a contratação de Joan Matabosch para um mandato de seis anos como director artístico. O comunicado acrescenta que a “decisão de substituir” Mortier “foi tomada após as recentes declarações públicas em que este manifestava a sua intenção de deixar o Teatro Real se o candidato a escolher não fosse proposto por ele”. Os subscritores agradecem, no entanto, “o extraordinário trabalho desenvolvido” pelo director artístico cessante “ao longo dos quatro anos que durou a sua relação profissional com o Teatro Real”. E desejam-lhe um rápido restabelecimento.

O documento recorda ainda o currículo de Matabosch, que nasceu em 1961 e é formado em Piano, Canto e Harmonia, tendo ainda uma licenciatura em Ciências da Informação. Elogiando o seu trabalho no Gran Teatro del Liceo, que dirigia desde 1997, o comunicado diz que o projecto artístico que Matabosch propôs ao Teatro Real “é uma proposta artística equilibrada e coerente com o actual projecto”. Uma opinião que Gerard Mortier dificilmente subscreverá, tendo em conta que ainda há dias delarara ao El Pais: “Gosto muito de Matabosch, mas não tem nada a ver com o actual projecto do Teatro Real”.

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