Sons de guerra na Casa da Música
Festival Música e Revolução evoca o centenário da I Guerra com um programa que inclui obras de Schönberg, Janácek e Berg, e a estreia mundial de Le Soldat Inconnu, de Georges Aperghis
O festival Música e Revolução regressa no dia 25 de Abril à Casa da Música, no Porto, com uma programação marcada pelo centenário da I Guerra Mundial. Até 1 de Maio, este ciclo percorrerá um conjunto de obras musicais relacionadas não apenas com a guerra de 1914-1918, mas também com outros conflitos de diferentes épocas.
Música e Conflito foi justamente o tema escolhido para esta oitava edição do festival, que incluirá uma estreia mundial: Le Soldat Inconnu, do compositor grego Georges Aperghis, uma peça encomendada pela Organização Europeia de Salas de Concerto (ECHO) para assinalar o centenário da guerra.
O programa abre na noite de 25 com um concerto que terá a particularidade de envolver várias formações da casa: a Orquestra Sinfónica, o Coro e a Orquestra Barroca. A primeira parte inicia-se com um peça para coro a capella de Arnold Schönberg, Paz na Terra, composta nos anos que antecederam a I Guerra, e da qual o compositor dirá mais tarde ter sido a sua última obra tonal, escrita num momento em que ainda não desesperara de ver realizada a harmonia entre os homens. A Orquestra Barroca apresentará depois peças de Jean-Philippe Rameau, Jan Dismas Zelenka e Haendel, sendo rendida, na segunda parte, pela Orquestra Sinfónica, que regressará a Schönberg, interpretando Um Sobrevivente de Varsóvia, homenagem expressa às vítimas do Holocausto. A encerrar este concerto inaugural, a cantata Evangelho Eterno, que Leoš Janácek concluiu na Primavera de 1914, a poucas semanas do assassinato do arquiduque Francisco Fernando em Sarajevo.
A mesma estrutura – uma primeira parte a cargo da Orquestra Barroca, a preceder a interpretação de reportório do século XX pela Orquestra Sinfónica – repete-se no dia seguinte, desta vez abrindo com Battalia à 10, de Heinrich von Biber, e Il combattimento di Tancredi e Clorinda, de Claudio Monteverdi : uma “obra crucial da história da música que raramente é interpretada”, sublinhou o director artístico da Casa da Música, António Jorge Pacheco, na sessão de apresentação deste programa. Na segunda parte, a Orquestra Sinfónica da Casa da Música interpreta Em Louvor da Paz, de Fernando Lopes-Graça, e a suite Três excertos de Wozzeck, de Alban Berg, que combateu na I Guerra, nas fileiras do exército austro-húngaro.
O festival incluirá ainda um concerto pela Banda Militar do Porto, a estreia de Le Soldat Inconnu, que o Remix Ensemble apresentará a 28, num concerto cuja primeira parte será preenchida pela versão completa, para narrador e ensemble, de L’histoire du soldat, de Igor Stravinski, e a estreia de Curado, um teatro musical desenvolvido pelo serviço educativo da Casa da Música com a Associação dos Deficientes das Forças Armadas e alunos do Balleteatro. A direcção artística é de Tim Yealland e a direcção musical de Jorge Prendas. Finalmente, a encerrar, no dia 1 de Maio, o regresso da exuberante orquestra de Goran Bregovic, com Champagne for Gypsies.