Rem Koolhaas vai dirigir a Bienal de Arquitectura Veneza em 2014

O arquitecto e teórico holandês, autor da Casa da Música, ainda não divulgou o tema. Crítico do PÚBLICO considera que a escolha foi um “tratamento de choque" no actual contexto económico e político.

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O arquitecto na Casa da Música em 2005 Manuel Roberto

Já se sabe quem vai dirigir a 14.ª Bienal de Arquitectura de Veneza, a realizar em 2014: Rem Koolhaas. Uma "celebridade" no mundo da arquitectura, disse o presidente da bienal, Paolo Baratta, quando anunciou o nome na terça-feira.

A escolha do arquitecto holandês, que projectou a Casa da Música, no Porto, é assim justificada num comunicado da bienal, que cita Paolo Baratta: “Rem Koolhaas, uma das mais significantes personalidades entre os arquitectos do nosso tempo - que tem baseado o seu trabalho numa pesquisa intensa, agora uma celebridade reconhecida -, aceitou envolver-se noutra pesquisa e, porque não, repensar.”

Para o arquitecto José Mateus, presidente da Trienal de Arquitectura de Lisboa, “em vez de alguém com um perfil de curador, a bienal tem vindo a escolher alguém fortemente ligado à prática”, como é o caso de Koolhaas. “Poderá ter menos treino na conceptualização de um evento destes, mas tem uma prática muito intensiva e um olhar muito peculiar sobre a realidade. É a pessoa indicada para poder questionar a bienal”, sustenta.

Já o crítico de arquitectura do PÚBLICO Jorge Figueira considera que a escolha de Koolhaas foi um “tratamento de choque”, tendo em conta o contexto de "regressão política e económica actual". “Parece-me uma escolha ajuizada e a última hipótese de a bienal tentar algo diferente”, afirma. Já em 1978, com a publicação de Delirious New York, Koolhaas mostrou ser “um arquitecto pensador à procura do que não é óbvio”, resgatando a cidade de Nova Iorque e em especial Manhattan para a cultura arquitectónica. O seu olhar teórico levou-o a publicar  S, M, L, XL em 1995, um “retrato hiperlúcido, quase cruel, da urbanidade global”, diz Figueira, ao constatar que a cidade “é feita por muita arquitectura sem autores, incluindo até o ruído arquitectónico”. Koolhaas faz uma crítica à nostalgia do lugar, concluindo que não faz grande sentido nas cidades em expansão ou emergentes. 

No comunicado da Bienal de Veneza, Koolhaas diz que quer “ter um olhar fresco sobre os elementos fundamentais da arquitectura – usados por qualquer arquitecto, em qualquer lugar, em qualquer altura – para tentar descobrir algo novo sobre a arquitectura”. Koolhaas venceu o Prémio Pritzker em 2000 – o maior galardão internacional da arquitectura – e há dois anos recebeu o Leão de Ouro pela sua carreira na Bienal de Veneza.

Na bienal de 2014, é certo que o arquitecto terá a seu cargo a curadoria da exposição central Cordiere dell’Arsenale – uma antiga fábrica de cordas – e a co-coordenação de vários pavilhões nacionais, abertos entre 7 de Junho e 23 de Novembro. Sucedendo como comissário ao arquitecto britânico David Chipperfield, que, no ano passado, trabalhou o tema “Common Ground” (“Territórios Comuns”), o que Koolhaas terá em mente para esta bienal é, porém, ainda uma incógnita.

É possível que a ideia central seja inspirada em temas que recentemente têm preocupado Koolhaas, diz o jornal britânico The Guardian, como Lagos, a capital da Nigéria, ou o trabalho dos arquitectos no sector público. Mas José Mateus lembra que “se há qualidade que Rem Koolhaas tem é a de nos surpreender”. Por isso, não arrisca nenhum dos temas que o holandês poderá escolher para a bienal. “Ele vai escapar a tudo o que seja familiar e a modelos de bienal que possamos conhecer. Posso dizer que tenho 90% de hipóteses de acertar ao lado, e isso é que é fantástico nele”, justifica, acrescentando que está expectante em relação à mostra de arquitectura e espera um trabalho de “seriedade”.

Jorge Figueira considera que será interessante acompanhar a opção de Koolhaas por uma “retórica de autocrítica”, mais contida, ou por um “estado puro, especulativo e provocante do ponto de vista intelectual”, semelhante às suas opções nos anos 70 e 80. “Em qualquer dos casos, acredito que haverá uma presença asiática muito forte, uma vez que ele tem muitos edifícios na China e noutros países asiáticos”, acrescenta.

 

 

 

 
 
 

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