Reacções à morte de António Ramos Rosa, o escritor que "iluminou a poesia portuguesa"

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António Ramos Rosa morreu segunda-feira aos 88 anos em Lisboa Nuno Ferreira Santos

O poeta António Ramos Rosa morreu segunda-feira em Lisboa aos 88 anos. Para o Presidente da República, desapareceu uma personalidade que "iluminou a poesia portuguesa desde a segunda metade do século XX".

O Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, enviou condolências à família do poeta António Ramos Rosa numa mensagem em que destacou o seu papel “na defesa da liberdade”. “Ao tomar conhecimento da morte de António Ramos Rosa, apresento à família enlutada as minhas mais sentidas condolências”, escreveu Cavaco Silva na nota enviada aos familiares e no portal da Presidência.

Segundo o chefe de Estado, António Ramos Rosa é um “nome maior da cultura portuguesa” e uma “personalidade ímpar” das letras, que se distinguiu em vários campos, como poeta, ensaísta e tradutor. “A ele devemos uma escrita límpida, que, pela sua lucidez poderosa, iluminou a poesia portuguesa desde a segunda metade do século XX até aos nossos dias”, escreve o presidente da República, destacando também o “cidadão empenhado na defesa da liberdade”. António Ramos Rosa foi um resistente político a Oliveira Salazar, destaca Cavaco Silva, afirmando que, apesar da morte do poeta, “a sua voz permanece viva”.

“Tão viva como quando cantou O Grito Claro, título do seu primeiro livro. A esse livro muitos outros se seguiram, numa obra extensa e vasta, que enriqueceu de forma notável a literatura portuguesa contemporânea”, concluiu o Presidente.

Secretaria de Estado da Cultura, em nome do Governo português

O Governo português expressou o seu pesar pela morte do poeta, com condolências endereçadas pelo secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier. A secretaria de Estado da Cultura lembrou a sua “faceta menos conhecida de tradutor”, exemplificando com nomes da literatura universal como Albert Camus, Stendhal, Marguerite Yourcenar ou Bertold Brecht.

Na nota da secretaria de Estado, na qual se lembra o percurso do poeta e ensaísta, é ainda assinalada a sua generosidade ao ter doado o seu espólio à Biblioteca Nacional em 1981.

José Manuel Mendes, presidente da Associação Portuguesa de Escritores

António Ramos Rosa “foi um dos poetas decisivos do século XX português”, disse à Lusa o presidente da Associação Portuguesa de Escritores (APE), José Manuel Mendes. “Situa-se entre os poetas que mais enriqueceram a literatura portuguesa e a sua obra vai perdurar. Acompanhou e ajudou a afirmar um vasto conjunto de autores” na poesia.

António Ramos Rosa, Prémio Pessoa 1988, venceu por duas vezes o Prémio APE de Poesia: em 1989 com Acordes e em 2005 com Génese seguido de constelações.

José Manuel Mendes, que referiu “uma perda dolorosa por uma relação longa de amizade”, elogiou ainda a “centelha criativa” e a “forma desprendida com que Ramos Rosa tudo oferecia”.

Maria Teresa Horta, escritora, recorda “gesto solidário” do poeta

A escritora Maria Teresa Horta afirmou à agência Lusa que deve a sua vida literária ao poeta António Ramos Rosa, a quem enviou por correio os primeiros poemas.

“Devo muito ao António. A minha vida literária nasceu desse gesto solidário e isso é inesquecível”, afirmou a escritora, recordando o dia em que enviou um envelope com vários poemas a Ramos Rosa, há mais de 50 anos.

“Foi a primeira pessoa a quem mostrei os meus poemas. Adorava a poesia dele e eu queria publicar. Telefonou-me a dizer que tinha gostado muito”, lembrou Maria Teresa Horta, referindo que foi António Ramos Rosa quem lhe publicou o primeiro livro de poemas, Espelho Inicial

Por tudo isto, afirmou, a morte de António Ramos Rosa “é uma imensa perda. Nós reuníamo-nos à volta dele, nós da Poesia 61 [obra que reuniu poemas de Casemiro de Brito, Fiama Hasse Pais Brandão, Gastão Cruz, Luiza Neto Jorge e Maria Teresa Horta]”. "Era um excelente poeta e nunca deixámos de manter contacto. Para mim os poetas não morrem”, disse.

Nuno Júdice, poeta: "Para ele, viver era escrever"

O escritor António Ramos Rosa foi um poeta “muito activo, para quem viver era escrever”, afirmou à Lusa o poeta Nuno Júdice. “Foi uma perda muito grande. Apesar da idade, era um poeta muito activo, fez muito pela poesia portuguesa, questionava constantemente a palavra, não era hermético nem formalista”, sublinhou.

Nuno Júdice, que recebeu em 2007 o Prémio Nacional de Poesia António Ramos Rosa, elogiou ainda o escritor por ter “uma poesia com uma luz muito própria” e que “fez parte de uma grande geração de poetas, dos anos 1950, com contacto com outros autores da Europa e da América Latina”. 

Câmara de Faro manifesta “profundo pesar” pela morte do poeta

O presidente da Câmara de Faro, Macário Correia, considerou que a morte de António Ramos Rosa, poeta que dá nome à biblioteca municipal da cidade, representa “uma perda enorme” para a cultura portuguesa e para a cidade, de onde era natural.

Macário Correia adiantou que a bandeira da autarquia irá estar três dias a meia haste, em sinal de luto pela morte do poeta, cujo funeral deverá ser na quarta-feira, em Lisboa.

“Quero desde já expressar, em nome do município de Faro, a terra de origem do poeta, o nosso profundo pesar aos familiares e amigos e constatar com tristeza a perda de um grande vulto da cultura portuguesa, de uma pessoa que deu muito aos valores da literatura, deu muito ao país, foi medalhado, homenageado e consagrado pelas suas virtudes em muitas instituições académicas e instituições da cultura portuguesa e estrangeira”, afirmou o autarca.

Macário Correia considerou ainda que, por todas estas razões, é “uma perda enorme o seu desaparecimento”, por “tudo aquilo que significa para o país inteiro e para Faro, que se orgulha de o ter entre os seus naturais e cuja biblioteca municipal tem o seu nome”. 
 
 
 

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