Ray Harryhausen (1920-2013): morreu o senhor dos monstros

Pioneiro dos efeitos especiais morreu em Londres aos 92 anos.

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Ray Harryhausen era considerado o pai dos efeitos especiais DR

Tim Burton nunca escondeu que Marte Ataca! havia sido directamente inspirado pelo seu trabalho, James Cameron, Steven Spielberg ou Peter Jackson assumiram-se seus fãs, a sua influência é evidente ao longo da evolução dos efeitos especiais, da animação de maquetas à animação digital.

Mas o americano Ray Harryhausen, falecido esta terça-feira em Londres aos 92 anos de idade, só nos anos 1990 foi verdadeiramente reconhecido como o pioneiro e mestre que foi, com retrospectivas do seu trabalho e um Óscar honorário pelo seu trabalho na criação de efeitos especiais.

O trabalho de Harryhausen é inconfundível, utilizando modelos e marionetas animados fotograma-a-fotograma, designado tecnicamente por stop-motion, para a criação de monstros e criaturas mitológicas. Duas cenas em particular são ainda hoje consideradas exemplares da sua estética: o exército de esqueletos em Os Argonautas (1963) e a luta com Medusa em Choque de Titãs (1981).

Influenciado pelo trabalho pioneiro de Willis O'Brien no King Kong original de 1933, Harryhausen foi contratado pelo técnico como seu assistente, e foi na sua equipa que começou a desenvolver a técnica de stop-motion que aperfeiçoaria a solo. O'Brien venceu o Óscar por O Gigante Africano (1949), onde Harryhausen teve um papel predominante na concepção dos efeitos visuais.

Os sucessos de O Monstro dos Tempos Perdidos (1953), primeiro filme em que assinou sozinho a concepção dos efeitos visuais, O Octopus (1955) e A Invasão dos Discos Voadores (1956) fizeram de Harryhausen o criador de efeitos especiais mais procurado de Hollywood. Associando-se ao produtor Charles Schneer, assumiu o controlo criativo dos seus filmes (que, contudo, nunca realizou) e continou a aperfeiçoar o seu método de animação fotograma-a-fotograma, a que chamaria Dynamation e que criava a ilusão da animação dos modelos ser feita no próprio plateau junto aos actores. Foi em Inglaterra, para onde se mudou em 1960, que Harryhausen produziu Os Argonautas, dirigido por Don Chaffey, que muitos consideram ainda a sua obra-prima.

No entanto, a sua técnica meticulosa e artesanal começaria a perder terreno face à evolução da tecnologia. O seu único sucesso nos anos 1960 foi Quando o Mundo Nasceu (1966), uma aventura pré-histórica dos estúdios Hammer, e o seu regresso nos anos 1970 com duas aventuras de Sinbad, bem recebidas pela crítica e pelo público, não foi suficiente para os estúdios a continuar a apoiá-lo. Choque de Titãs, dirigido por Desmond Davies, foi o seu último filme, em 1981.

Embora não tenha voltado a rodar, Harryhausen continuou a ser evocado pelos seus sucessores na área dos efeitos visuais como um pioneiro e, para além do Óscar honorário que lhe foi entregue em 1992, recebeu várias homenagens de críticos e colegas um pouco por todo o mundo. Em 2010, doou todo o seu arquivo, que se estendia a cerca de 50 mil objectos usados na produção dos seus filmes, ao National Media Museum de Bradford.

A sua morte foi anunciada pela família numa declaração colocada na rede social Facebook e foi imediatamente recebida com pesar por críticos, cineastas e fãs de todo o mundo. Mas talvez a melhor homenagem seja aquela que foi colocada na rede Twitter pelo argumentista Travis Beacham, autor de um dos blockbusters mais falados deste verão, Batalha do Pacífico, de Guillermo del Toro, sobre uma guerra entre monstros extra-terrestres e robôs gigantes: “Não haveria Batalha do Pacífico sem Ray Harryhausen. Não existiria de todo. Nem muitas outras coisas, mas desta tenho certeza absoluta.”
 
 

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