Mo Yan não sentiu "pressão" ao escrever discurso que vai fazer em Estocolmo

Mo Yan irá falar da sua vida na palestra que dará hoje em Estocolmo, na Academia Sueca. Dificilmente abordará temas políticos.

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Mo Yan, em Maio de 2001, na Suécia quando visitou Estocolmo pela primeira vez AFP PHOTO / Peter Lydén / SCANPIX

O Nobel da Literatura 2012, o escritor chinês Mo Yan, vai fazer hoje à tarde, em Estocolmo, o seu discurso de agradecimento do prémio que lhe foi atribuído em Outubro.

O autor de Mudanças (ed. Divina Comédia) e de Peito Grande, Ancas Largas (ed. Babel), de 57 anos, é o primeiro escritor chinês a receber o Nobel da Literatura (Gao Xingjian, escritor de origem chinesa premiado em 2000, tem nacionalidade francesa desde 1997). E a cerimónia, como a descreve a agência AFP, deverá ser “um exercício de equilibrismo para o escritor que se tornou o orgulho de um regime que mantém em prisão o prémio Nobel da Paz 2010, Liu Xiaobo”: o escritor terá de pesar cada uma das suas palavras.

Na conferência de imprensa que deu ontem na capital sueca, o escritor disse que já tinha o discurso escrito e que irá falar da sua vida. “Não senti nenhuma pressão ao escrevê-lo”, afirmou. “É sempre impossível mencionar todas as questões no discurso do vencedor do Nobel da Literatura. Por isso, vou contar a minha história, contar a verdade. Na realidade, escrevi o meu discurso em dois dias, sem nenhuma pressão.”

Na cerimónia, há dois anos, uma cadeira vazia simbolizou a ausência do dissidente chinês Liu Xiaobo, que não foi autorizado pelo regime de Pequim a ir receber o prémio e, na altura, a reacção de Pequim foi chamar “palhaços” aos membros do comité do Nobel.

Os 134 laureados das várias categorias do Nobel pediram recentemente ao novo dirigente chinês Xi Jinping a libertação de Liu Xiaobo, que está preso desde 2009, com uma pena de 11 anos por causa de ser co-autor de um texto a favor de um regime democrático na China.

Quando, na conferência de imprensa de ontem, lhe pediram para falar sobre o pedido de uma libertação de Liu Xiaobo “tão rápida quanto possível” e se iria apoiar a petição dos outros colegas, o escritor Mo Yan respondeu que já tinha exprimido a sua opinião sobre este assunto e lembrou que este é um prémio de literatura e não de política. Na altura da atribuição do Nobel, um jornalista ocidental fez-lhe essa mesma pergunta e ele respondeu que esperava que Liu fosse libertado “logo que possível”.

À AFP, o professor de Literatura da Universidade do Povo de Pequim Ma Xiangwu afirmou que não há  “nenhuma chance” de Mo Yan fazer alguma alusão ao dissidente preso. “Ele não abordará nenhuma questão sensível no seu discurso. Acho que vai ser muito moderado. Não creio que ele critique directamente o Governo”, acrescentou o académico.

Não é a primeira vez que o escritor chinês está em Estocolmo. Visitou a cidade há 11 anos e, nessa altura, um amigo brincou com ele, dizendo-lhe que tinha de escrever cada vez melhor para um dia estar ali a receber o prémio Nobel.

“Hoje, estou aqui para receber o Nobel. Sinto-me muito feliz, mas também envergonhado. Porque acho que há muitos outros bons escritores que merecem esse prémio. Acho que não escrevi suficientemente bem, mas vou continuar a esforçar-me”, disse na conferência de imprensa.

Quer voltar a sentar-se à secretária a escrever. Embora se diga que, depois de receber o Nobel, um escritor nunca mais consegue escrever um livro bom, Mo Yan acredita que muitos dos seus colegas vencedores no passado já quebraram essa regra.

 
 

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