Pode um abraço salvar a Casa da Música dos cortes anunciados para 2013?

Artistas, académicos, políticos e outros frequentadores do espaço convocaram para a tarde de domingo um “abraço à Casa da Música”. PCP exige que cortes não passem dos 20 por cento.

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Estado vai cortar 30 por cento no financiamento da Casa da Música em 2013 Paulo Pimenta

Um grupo de cidadãos subscreveu um apelo para a realização, neste domingo, de “Um Abraço à Casa da Música”. As escritoras Ana Luísa Amaral e Regina Guimarães, os coordenadores do Bloco de Esquerda Catarina Martins e João Semedo, o músico Pedro Abrunhosa e o politólogo André Freire são apenas alguns dos mais de 40 aderentes a uma mensagem de mobilização que é também um ataque à política cultural do actual executivo.

“Um Governo que desinveste na cultura não acredita no futuro. Um Governo que não honra os seus compromissos não merece a confiança dos cidadãos e das cidadãs do país que governa”, criticam os subscritores, descontentes com o anúncio de um corte de 30 por cento no financiamento estatal da Casa da Música para 2013 e que, por isso, a partir das 15h30 de domingo prometem cercar o edifício desenhado por Rem Koolhaas.

A medida, anunciada pelo actual secretário de Estado, Jorge Barreto Xavier, contraria um compromisso assumido anteriormente pelo seu antecessor, que apontara para um decréscimo  de 20 por cento na dotação do Estado em 2013. E levou, já este mês, à demissão em bloco da Administração da Fundação Casa da Música. A decisão, que incomodou o CDS, parceiro de coligação do PSD na maioria que suporta o Governo, tem merecido reparos de todos os quadrantes políticos.

Esta sexta-feira, o PCP entregou para votação na Assembleia da República um projecto de resolução a exigir que o corte se limite aos 20 por cento anteriormente previstos, garantindo que, quer para este ano ainda, quer para 2013, a dotação estatal não seja inferior a oito milhões de euros. Os comunistas recordam o eco que o anúncio teve  entre instituições internacionais ligadas à cultura assinalam também que a programação de 2013 foi anunciada pela instituição em Novembro, tendo em conta as perspectivas orçamentais anteriores.  

Numa entrevista que o Porto Canal emite esta sexta-feira à noite, o eurodeputado e ex-candidato à liderança do PSD, Paulo Rangel, considerou que o “centralismo” exibido pelo Governo em várias questões que afectam o Norte do país, entre elas a do financiamento da Casa da Música, merecia, por parte da população da região, um “15 de Setembro”. Numa alusão à manifestação que fez o Governo recuar na intenção de transferir das empresas para os trabalhadores parte da Taxa Social Única, Rangel apelou a uma manifestação na avenida dos Aliados.  

O arquitecto Soares da Luz, um dos promotores da manifestação de domingo, desliga esta iniciativa, em preparação desde o unúncio dos cortes, deste apelo do militante do PSD, mas admite que teria todo o gosto em ver o eurodeputado juntar-se ao protesto que decorrerá não nos Aliados mas noutro ponto central da cidade. “A Casa da Música é hoje um ícone do Porto e o seu estrangulamento é um nó na garganta dos seus cidadãos. Se ficarmos quedos perante a afronta, outros machados se abaterão sobre as nossas instituições e o nosso inalienável direito a fazer da cultura uma das pedras basilares da vida quotidiana”, referem os subscritores do abraço marcado para domingo.

Do ponto de vista cultural, os promotores da manifestação vincam que “a Casa da Música é a casa de todas as músicas e de todos os públicos, fazendo os trânsitos mais ousados entre géneros e referências, combatendo a elitização e o fechamento”. Arquitectos, sindicalistas, académicos, os mais de 40 aderentes elogiam o trabalho com comunidades desfavorecidas, através do “som da rua”, “magnífica orquestra de população sem tecto” e convocam “os cidadãos do Porto e da sua região a um combate decidido” pela instituição. 

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