Pela primeira vez vamos conhecer a capela de Maria Pia no Palácio da Ajuda

Foi esta terça-feira inaugurada, no Palácio Nacional da Ajuda, a capela de Maria Pia, fechada desde 1910.

A intervenção de restauro afectou todo o espaço da capela, incluindo os vitrais
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A intervenção de restauro afectou todo o espaço da capela, incluindo os vitrais José Ferreira
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A Santa face de Cristo, de El Greco José Ferreira
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José Ferreira

Não se pode dizer que o Palácio Nacional da Ajuda, em Lisboa, ganhou uma capela, quando esta sempre lá esteve. Mas a verdade é que foi mesmo isso que aconteceu. Até agora fechada ao público e transformada em sala de arrumos, a capela privada da rainha Maria Pia, a princesa de Sabóia que casou com o rei D. Luís e fez do Palácio da Ajuda a sua casa, foi restaurada e está pela primeira vez, desde 1910, à vista do público. E como se isso não bastasse, a capela guarda no seu interior um tesouro: o único El Greco nas mãos do Estado.

Há uma nova paragem obrigatória para os visitantes do Palácio da Ajuda. Se até agora muitos turistas perguntavam por que é que o palácio real, onde a família real fez a sua vida, não tinha uma capela, a pergunta vai deixar agora de se fazer, como aponta o director José Alberto Ribeiro. “É mais uma lacuna que desaparece”, diz aos jornalistas o director do Palácio da Ajuda na apresentação da capela, que nos últimos meses foi submetida a uma “rigorosa intervenção de conservação e restauro e respectiva reconstituição histórica”.

Encomendada pela própria Maria Pia (1847-1911), a capela que data de finais do século XIX é uma obra de Miguel Ventura Terra, o arquitecto a quem se deve a reconversão do edifício do Parlamento ou os projectos para a Maternidade Alfredo da Costa e os Liceus Camões e Pedro Nunes, todos em Lisboa.

“O que vemos aqui é a sala mais próxima do original”, acrescenta José Alberto Ribeiro, explicando que, apesar de não existirem desenhos e plantas da época de como era aquela capela e apesar de não se saber muito sobre o seu uso, recorreu-se a arrolamentos judiciais da época, aquando da implantação da república, para se perceber o que ali estava exposto. “Tínhamos indicação das peças que estavam em cada divisão e por isso procurámos manter intacto tudo quanto possível.”

Com paredes pontuadas de estrelas douradas, tecto de madeira e umas portas enormes com ferragens elegantes, a capela, que fica exactamente na zona dos aposentos da família real, está, como na altura, dividida em três partes: uma câmara de entrada, o corpo da capela e a sacristia.

A intervenção, de 70 mil euros, custeada pela Fundação Millennium BCP, mecenas que está também a apoiar, neste momento, trabalhos de conservação nos museus nacionais de Arte Antiga e do Azulejo, não só vem realçar os detalhes da época – as estrelas nas paredes têm agora todas o mesmo tom dourado, por exemplo – como vem permitir que neste espaço sejam expostas obras que até agora estavam longe da vista do público.

É isso mesmo que destaca o director do palácio, explicando que houve uma preocupação com a organização do espaço para que se pudessem ir buscar novas peças. “Procurámos obras que nunca tinham saído das reservas, quisemos dar também à capela uma solução museológica”, acrescenta José Alberto Ribeiro, classificando as obras aqui expostas como de “carácter devocional mais privado”.

Entre estas obras o destaque vai exactamente para o óleo, do primeiro quartel do século XVII, a Santa Face de Cristo, de El Greco. “É a única obra deste pintor em Portugal”, aponta José Alberto Ribeiro, que tem como objectivo passar a mostrar algumas das obras de cariz religioso que fazem parte da colecção do palácio nesta capela, onde se podem ver ainda alguns santos da devoção da rainha Maria Pia como Santa Rita de Cássia, S. Francisco Xavier, S. Carlos Borromeo e a Virgem de Paris.

José Alberto Ribeiro lembra que, apesar do pouco que se sabe, esta capela seria um local muito procurado pela rainha, existindo aqui uma carga emocional associada. A rainha usava-a depois da morte de D. Luís (1838-1889) e fez questão que tivesse nos vitrais as armas de Sabóia e de Portugal.

“Este é mais um passo dado ao encontro do nosso objectivo de criar mais condições para que o Palácio da Ajuda seja cada vez mais visitado”, conclui o seu director.

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