Produtor histórico do Cinema Novo evoca Paulo Rocha

O produtor de Verdes Anos e Mudar de Vida, António da Cunha Telles, recorda alguém profundamente crente

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Paulo Rocha morreu este sábado em Gaia aos 77 anos Paulo Ricca

"Paulo Rocha era alguém profundamente íntegro, tinha alguma sinceridade que tinha guardado." São palavras de António da Cunha Telles, produtor dos dois primeiros filmes de Paulo Rocha, Verdes Anos (1963) e Mudar de Vida (1967), duas das obras-chave do Cinema Novo português cujo autor morreu este sábado aos 77 anos.

Verdes Anos foi, aliás, o filme que deu o "tiro de partida" para esse movimento do qual fizeram igualmente parte Fernando Lopes, o próprio Cunha Telles ou António de Macedo. "Tínhamos ambições um pouco desmedidas, estávamos convencidos que os nossos filmes iam alterar o statu quo podre e cinzento..." 

Contactado pelo PÚBLICO, o produtor define Verdes Anos como "um filme completamente lírico". "Foi o grande grito de liberdade do cinema português dos anos 1960, contra todas as regras e todos os preconceitos do que então era um cinema burguês, de comédias de boulevard," diz. "E o Paulo Rocha surge com um filme que tinha as suas fraquezas, mas que fazia delas as suas forças; que provava que a cidade podia dar um filme. Era um filme profundamente lisboeta, de uma Lisboa vista a partir dos primeiros baldios." 

É também, para Cunha Telles, o seu preferido dos dois filmes que produziu para Paulo Rocha. "Mudar de Vida era mais rigoroso, mais maduro, mais bem feito, mas pessoalmente gosto mais dos Verdes Anos, por razões sentimentais e não só. A rodagem foi extremamente apaixonante, porque toda a gente estava a fazer o primeiro filme, mesmo os electricistas ou a cabeleireira..."

O produtor recorda Paulo Rocha como "alguém profundamente crente". "Acreditava muito numa espécie de inspiração divina, e essa atitude perante a vida está muito ligada aos filmes que dirigiu. A sua integridade era mais que evidente."
 
 

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