Os melhores discos pop de 2012 para o Ípsilon (lista completa)

Estes são os melhores discos de 2012 para os críticos do Ípsilon.

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Fernando Veludo

 1. Tame Impala – Lonerism

Santa solidão, a de Kevin Parker, cérebro e corpo de estúdio dos Tame Impala. Lonerism, o sucessor de Innerspeaker na curta mas sumarenta discografia dos australianos, leva mais longe o talento desmedido de Parker para construir canções que se inscrevem nos nossos cérebros e nos nossos corpos.

Para ele, criar música equivale a pôr cá fora as melodias que tem na cabeça, explicou ao Ípsilon. E que melodias: imaculadas, cristalinas, devedoras do melhor que os anos 1960 e 70 nos deixaram antes de os sonhos pop serem interrompidos pela realidade do punk.

Kevin Parker surge, em definitivo, como arquétipo do artista do século XXI: um viajante nos trilhos da história pop, que recupera e reconfigura sons de outras eras, fazendo algo seu, único e que, verdadeiramente, não poderia ser feito no passado. Lonerism repesca Todd Rundgren, Supertramp e outros grandes do rock e da pop com pompa e trip dos anos 70, os Beatles, T-Rex e um sem-número de ecos da música popular.

"Sempre adorei a ideia de música pop, mais do que a música pop propriamente dita. Tem esta inocência, esta emoção, esta pureza, que outras músicas, mais intelectuais, não têm. Com a música pop só tens de deixar que ela te afecte, sabes?", disse Kevin ao Ípsilon. Lonerism afectou-nos. P.R.

2. B Fachada – Criôlo

No seu imparável percurso rumo à canção imperfeita, B Fachada fez de Criôlo a pista de dança de uma discoteca africana em que fez brilhar a sua esquálida anca: entre cortinas de sintetizadores baratos erguem-se funanás electrónicos feitos de beats, coros semi-pornográficos, melodias ondulantes e entorpecidas. Há ainda tempo para reggaes que lembram Gainsbourg, alfinetadas ao Aníbal e "muita mama e boa foda". Chamem-lhe novo-chique-afro-pimba; chamem-lhe o que quiserem: é perfeito. J.B.

3. Dr John – Locked Down

Todo o ruído que nos atafulha olhos e ouvidos seria insuficiente para apagar isto, um gigante chamado Dr. John a regressar como já não esperávamos possível. O rei de New Orleans, ou melhor, do voodoo enquanto música de New Orleans, o feitieiro excêntrico que nos deu Gris Gris ou Remedies, redescobriu-se com Dan Auerbach, o produtor em Locked Down. O resultado é não só uma imensa majestosidade, um groove impressionante e uma voz que impõe a sua sábia autoridade. M.L.

4. THEESatisfaction - awE naturalE

Apesar de avistadas no monumental Black Up, dos Shabazz Palaces, dificilmente se adivinharia que Stasia Iron e Catherine Harris-White inventariam um tão sedutor caldo de hip-hop, jazz e soul. Floetry, Erykah Badu e Ursula Rucker já andaram pelas terras de awE naturalE, De La Soul, Q-Tip e Anti-Pop Consortium já bateram na porta ao lado, mas o álbum das THEESatisfaction é amor, feminismo e celebração da música negra transformados em hipnose slow-motion. QueenS só pode ser a canção do ano. G.F.

5. Julia Holter – Ekstasis

Parecem muitas vozes, mas é apenas uma. São canções, mas sem a previsível estrutura de canção, habitadas por harmonias colocadas em camadas, como se fossem produzidas por um canto coral. Como as personalidades mais criativas, não é fácil enquadrar a americana: algures num terreno onde a cultura popular se cruza com a erudita. É música climática, recheada de reverberações e atmosferas intrigantes, sublinhando um oceano de afectos onde acabamos por nos perder sem remissão. É como se fosse uma igreja onde em vez de grandiosidade houvesse intimidade. V.B.

6. Norberto Lobo – Mel Azul

Ao quarto disco a solo (terceira obra-prima), as mãos de Norberto Lobo mostram ser incapazes de produzir outra coisa que não o mais arrebatador encantamento. Tudo cai dentro do seu espectro de acção, tratado com a mesma dose de brilhantismo: John Fahey, Bert Jansch, Carlos Paredes, Ricardo Rocha, Ravi Shankar, Jack Rose, Ry Cooder, Sun Ra, Miles Davis... Por esta altura, a música portuguesa já não passa sem Norberto. O resto do mundo precisa saber disso e convencer-se do mesmo. G.F.

7. Diabo na Cruz – Roque Popular

Bastava Luzia para que o regresso dos Diabo Na Cruz fosse inolvidável. Mas 2012 apanhou Jorge Cruz em grande forma e o rock e o rancho viram funk na volta da malha de um malhão. Triângulos, cavaquinhos e acordeões bailam com linhas de baixo, enquanto riffs de guitarra colidem com a galáxia do folclore: o rock domina Bomba-Canção, o popular está em Sete Preces. A Pioneiros, essa enorme canção, alguém há-de erguer um dia um altar. J.B.

8. Django Django – Django Django

São quatro, de Edimburgo, Escócia, mas estão sediados em Londres, para onde foram na esperança de se tornarem um dos casos sérios da pop britânica. E conseguiram-no, com uma música onde a dinâmica rítmica é central. Depois existem elementos psicadélicos trazidos pelos sintetizadores a deambular por entre as vozes, guitarras com toque funk e um clima geral soalheiro que convida à evasão. São canções pop, mas quase sempre com uma cadência minimalista que pode conduzir à dança, marcadas pelo sentido preciso das linhas de baixo, pelas harmonias vocais e pela grande sensibilidade melódica. V.B.

9. Kindness – World, You Need A Change Of Mind

Temos cada vez mais a percepção de que a cultura popular se devora a si própria em ciclos cada vez mais curtos. O que não significa que não se possa dialogar com o passado de forma estimulante, como no álbum de estreia de Kindness. Ponha-se a tocar este disco a quem nunca o ouviu e que não possua nenhuma referência do mesmo e a sua reacção poderá ser surpreendente. Numa primeira aproximação, dir-se-ia que reflecte influências funk e "disco" (Sly Stone, Arthur Russell, Prince), embora também se possa pensar em projectos da pop electrónica dos anos 80 que hoje estão esquecidos (Associates, Scritti Politti). Em nenhum momento se fica com a ideia de que é um objecto passadista. V.B.

10. Caetano Veloso – Abraçaço

O disco que nos ajuda a reencontrar o génio de Caetano. Em 15 anos é a sua primeira obra-prima. É a primeira vez que o seu rosto aparece na capa de um disco gravado com a BandaCê, como se até aqui tivesse querido dissolver-se no colectivo e navegar incógnito nos seus experimentalismos. Mas se agora ressurge fá-lo no exacto momento em que a sonoridade tentada desde Cê (2006) e desenvolvida depois em Zii e Zie (2009) atinge a sua plenitude. O que, até aqui, eram ideias de maior ou menor brilho, tonalidades, fragmentos, surge agora banhado por uma luz que há muito tempo não visitava a sua obra. N.P.

11. Frank Ocean – Channel Orange

12. Chromatics – Kill For Love

13. Kendrick Lamar – Good Kid, M.a.a.d City

14. Experimentar na m’incomoda – O Experimentar 2: O Sagrado e o Profano

16. The thing + Neneh Cherry – The Cherry Thing

17. Bill Fay – Life Is People

18. Fiona Apple – The Idler Wheel…

19. Ty Segall – Twins

20. Dirty Projectors – Swing Lo Magellan

21. Daughn Gibson – All Hell22. Paul Buchanan – Mid Air23. BeachHouse – Bloom24. Mirel Wagner – Mirel Wagner25. Flying Lotus – Until The Quiet Comes26. Teengirl Fantasy – Tracer27. Pega Monstro – Pega Monstro28. The 2 Bears – Be Strong29. Getatchew Mekuria & The Ex – Y’Anbessaw Tezeta30. Andy Stott – Luxury Problems


Escolhas de João Bonifácio, Gonçalo Frota, Mário Lopes, Nuno Pacheco, Pedro Rios e Vítor Belanciano

Artigo actualizado no dia 30/12 às 14h25: Lista actualizada com as primeiras escolhas

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