Os 1100 milhões em pinturas cubistas doados ao Metropolitan podiam ter sido de Espanha

Na semana passada, 78 pinturas valiosíssimas de Picasso, Léger, Gris e Braque foram doadas ao Museu Metropolitan de Nova Iorque, um dos maiores donativos da história (não só das artes). Agora, sabe-se que grande parte deles podia ter ficado em Espanha.

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A colecção do Metropolitan tornou-se uma referência em cubismo com esta doação Spencer Platt/Getty Images/AFP

Na passada terça-feira, o Museu Metropolitan de Nova Iorque anunciava com pompa e alegria o facto de ter sido a instituição escolhida para albergar um dos mais importantes donativos de sempre, e uma das mais importantes colecções de pintura cubista do mundo: 78 obras de Pablo Picasso, Fernand Léger, Juan Gris e Georges Braque preencheriam as lacunas do Met naquele período da arte do século XX. Este domingo, outra parte da história é contada. A parte de quem perde, aqueles que podiam ter comprado algumas daquelas obras e que as viram escapar-se-lhes das mãos. Espanha, país de Picasso e de Gris, deixou-as fugir em 1983.

O diário espanhol El Pais escreve este domingo sobre os momentos que precedem o próprio donativo, revelando mais sobre os bastidores da aquisição, por Leonard A. Lauder, herdeiro da fortuna da milionária da cosmética Estée Lauder, de grande parte da sua importante colecção cubista.

O ano era o de 1983 e Carmen Giménez era a responsável pelo Centro Nacional de Exposiciones. Giménez estava em Basileia, na Suíça, com Leonard A. Lauder e com o herdeiro do coleccionador Douglas Cooper,  Bill McCarthy. Ambos tinham sido convidados por McCarthy para inspeccionar a colecção de pintura cubista (subvalorizada na época por estarem mais em voga no mercado da arte o impressionismo e o pós-impressionismo) que Cooper começara a coligir em 1932, uma parcela importante do que viria a ser o espólio de Lauder - "sem dúvida o mais valioso do mundo neste campo", classifica sem hesitações o perito francês e ex-director do Metropolitan Philippe de Montebello, responsável pelo início das longas conversações de Lauder com o museu há cerca de dez anos. 

Naquele fim-de-semana, Lauder e Giménez tornaram-se amigos - mesmo tendo sido o milionário norte-americano a ficar com as cobiçadas obras, que agora tornarão o Metropolitan numa "referência mundial" em cubismo, como contextualiza Montebello no El Pais. Por que venceu o americano, apesar de Cooper, o coleccionador original, tanto apreciar Espanha como uma das pátrias do movimento artístico? Por que é que, mesmo sabendo o governo espanhol que Cooper gostaria de ter lá deixado o seu espólio cubista, ele não ficou em Espanha? "Eram tempos em que não existiam estruturas no Estado [espanhol] capazes de abordar uma operação assim", escreve o diário, o que fez com que Giménez, ou Madrid, não tivessem sequer feito uma oferta para adquirir a colecção de pinturas.  

Giménez gostava "de ter podido comprar para Espanha aquelas pinturas, ter-nos-iam custado menos de 10% do que valem hoje". Hoje, de facto, o todo da colecção de Lauder agora nas mãos do Metropolitan está avaliado em mais de 1,1 mil milhões de dólares (cerca de 842 milhões de euros) e uma parte significativa da sua riqueza deve-se ao trabalho do coleccionador Douglas Cooper, mas também às compras que fez a Gertrude Stein ou ao banqueiro suíço Raoul La Roche.  

Fora de Espanha, portanto, e em Nova Iorque, está agora um conjunto-chave de obras cubistas que tornam o segundo museu mais visitado do mundo numa referência não só enquanto museu enciclopédico, mas também numa referência num dos mais importantes movimentos artísticos da história e, em particular, do século XX. Notre avenir est dans l’air (1912), Eva (1913) ou Vive la France (1914-15), de Picasso, juntam-se a Coupe à fruits et verre (1912), de Braque, ou a Composition (Le typographe) (1917-18), de Ferdinand Léger, e L’homme au Café (1914), de Juan Gris, numa ala que está a ser especialmente desenvolvida para albergar a colecção Lauder no Met. A inauguração está agendada para o Outono de 2014.

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