Optimus Primavera Sound acabou com balanço positivo na noite Savages

Com 75 mil espectadores, ao longo dos três dias, terminou sábado o festival, com um balanço amplamente positivo na noite em que as Savages dominaram e os My Bloody Valentine dividiram opiniões.

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Paulo Pimenta
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The Glockenwise Paulo Pimenta
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Roll The Dice Paulo Pimenta
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Dinosaur Jr Paulo Pimenta
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Los Planetas Paulo Pimenta
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Degreaser Paulo Pimenta
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The Drones Paulo Pimenta
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Daughn Gibson Paulo Pimenta
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Explosions in the Sky Paulo Pimenta
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Savages Paulo Pimenta
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Dan Deacon Paulo Pimenta
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Dan Deacon Paulo Pimenta
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Terminou a segunda edição e o balanço é amplamente positivo. Segundo a organização passaram pelo Parque da Cidade, nos três dias, 75 mil espectadores, o que configura o limite da lotação inicialmente previsto. O que de bom havia acontecido no ano transacto foi solidificado: a concepção do espaço, ao nível da iluminação, dos palcos, do aproveitamento do relevo do local é subtil mas inigualável.

Nos locais onde decorrem concertos é onde se foca a nossa atenção sonora e visual. O resto do espaço respira, sem o ruído das luzes, do som e da poluição publicitária excessiva. Estamos no meio da multidão, mas podemos sentir que estamos também no nosso espaço.

O que também contribui para criar um excelente ambiente, com muitos estrangeiros (talvez um pouco menos do que o ano passado) a darem mais colorido ao festival e contribuindo também para que todos os concertos, mesmo os mais difíceis, tenham o seu público.

Nick Cave, pela catarse, James Blake, pelo intimismo, Blur, pela celebração e, sábado, na noite final, as Savages, pela incisão, e os My Bloody Valentine, pela divisão que provocaram na assistência, foram concertos que marcaram. Mas cada um terá o seu roteiro afectivo de espectáculos preferidos, até porque ninguém os consegue ver todos.

No entanto quem viu, no sábado à noite, as inglesas Savages sentiu certamente que estava perante algo especial. Há semanas, a propósito do lançamento do álbum de estreia (“Silence Yourself”), escrevíamos que existia qualquer coisa de anacrónico na sua música (um som selvagem e físico com inúmeras referências expostas à flor da pele) e ao mesmo tempo de superação da memória ambígua do rock. Ao vivo essa sensação é ainda maior. Podemos passar o tempo a evocar memórias para as enquadrar e no entanto elas são mesmo únicas. 

Em particular, a cantora francesa Jehnny Bet, um portento na forma como aborda o palco, com uma intensidade primitiva que parece desenhada de forma militar. Aliás toda a abordagem das quatro mulheres tem qualquer coisa de combustão espontânea à beira da deflagração e de estrutura monolítica, algures entre o ruído dos primeiros Sonic Youth, a fisicalidade dos Joy Division mais rítmicos e as estruturas muito marcadas das praticamente esquecidas alemãs X-Mal Deutschland, grupo feminino do  pós-punk dos anos 1980.

Na edição deste ano do festival ainda não se havia sentido estarmos perante algo no exacto momento em que emerge de forma triunfal. As Savages foram isso. A sua música nunca será um fenómeno de massas, mas têm tudo para se transformarem num caso de culto.

Esse foi, de longe, o concerto da noite. Aliás foi no palco-tenda Pitchfork que aconteceram os concertos mais refrescantes, com o americanos Daughn Gibson e Dan Deacon. O primeiro a mostrar ao vivo tudo o que de bom já revelara no álbum “All Hell” do ano passado, misturando referências (folk, blues, electrónicas, rock) numa sonoridade nocturna em que sobressaía a voz de trovão.

O segundo é sempre garantia de espectáculo frenético, sintonizando tudo o que fica à margem das convenções pop, mastigando-as e fazendo-as suas, numa sucessão de correrias digitais, sublinhadas pela presença vibrante de duas baterias.  Não vimos tudo porque à mesma hora, no palco Optimus, estavam os My Bloody Valentine.

Toda uma experiência: ruidosos e maravilhosamente impiedosos, para nós, e para os que ficaram até ao fim. Demasiado radicais para os muitos que foram fugindo do ruído. Previa-se que não fosse um concerto unânime e assim aconteceu. Como outros veteranos que deram um bom concerto, os Swans, os irlandeses não transigem com o seu legado. E fazem bem. Não regressaram por acaso, mas porque acreditam no que fazem. A sua música, está bem de ver, nada tem de efusivo. É rock ruidoso, misterioso, melancólico. Há palavra, mas apenas para sublinhar a solidão da palavra. Há melodia, mas apenas a vislumbrará quem mergulhar nas camadas sonoras sobrepostas.

Tocaram temas dos álbuns do passado (de 1988 e de 1991) e do disco que lançaram este ano, mas na verdade nada disso interessa. Os irlandeses não têm sucessos. Têm uma massa sonora violenta para oferecer que é traduzida ao limite, quase no final, em dez minutos de ruído (aparentemente) compacto, com guitarras, baixo e bateria participando do mesmo fluxo irresistível, enquanto os músicos se mantêm em palco numa postura quase imóvel. Na maior parte das vezes o público não soube como reagir. Ainda bem que há concertos assim, que nos fazem repensar a nossa relação com a música.

Existiu quem se queixasse que o festival merecia outro final no palco principal. Talvez. Mas o problema não foram os My Bloody Valentine, mas sim do alinhamento global do palco.  Antes os americanos Explosions In The Sky foram uma desilusão, desconstruindo o rock de forma previsível e baça (na esteira dos ingleses Mogwai e antes de todos, dos canadianos GYBE!), e os Dinosaur Jr., veteranos do rock alternativo, sempre garantia de entrega e de som musculado sem concessões, mas que não chegaram propriamente a entusiasmar.

Dos restantes, e do que conseguimos vislumbrar, destaque para os americanos Liars, a banda que muda de personalidade a cada disco, mas que em concerto mantém sempre a mesma atitude vibrante, e para os White Fence, psicadelismo rock que não quer mais do que ter consciência das suas raízes, mas que nesse movimento de honestidade acaba por conquistar. E os portugueses Paus: foram a súmula do festival – tribalismo urbano, com ganas de gritar sonoramente tudo o que de mal se passa neste momento no mundo, mas ao mesmo tempo não deixando de celebrar o facto de haver ali uma comunidade alargada de pessoas também a celebrar a vida.

Como eles dizem: “estamos juntos.” Foi bom. Os Paus. E o festival.

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