Olhando para a Suécia, vemos o streaming como o futuro da indústria musical

As receitas geradas pela indústria musical sueca cresceram 14% em 2012 e 64% delas provêm dos formatos digitais. A Billboard afirma que ver a Escandinávia é antever o futuro do consumo de música.

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Os Metallica, ferozes opositores das partilhas de ficheiros, aceitaram no mês passado disponibilizar o seu catálogo no Spotify Nuno Ferreira Santos

A esmagadora maioria das receitas geradas pelos formatos digitais (90%) provêm de serviços de streaming como o Spotify. A maior empresa mundial do género foi fundada na Suécia em 2008. Tem cerca de 20 milhões de utiizadores e um catálogo de 18 milhões de canções.

É a Billboard, a vetusta revista que se dedica há mais de um século a noticiar o andamento da indústria musical, que o diz. Se quisermos ver o futuro do consumo de música, temos de olhar para a Escandinávia, mais propriamente para a Suécia. E que nos diz o país onde nasceram os Abba? Que as vendas de música subiram 14% em 2012, o que fez dele o melhor ano para a indústria desde 2005. Diz-nos também, e é aqui que estará a visão de futuro, que 64% das receitas provêm dos formatos digitais, e, nelas, a esmagadora maioria (90%) é gerada por serviços de streaming (audição de música online, sem download de ficheiros).

Com o volume total de negócio a crescer de 95,5 milhões de euros em 2011, para 108,6 milhões de euros o ano passado, Ludvig Werner, presidente da representação sueca da Associação Internacional da Indústria Fonográfica, vê um “sinal claro” de retoma. “Há mais consumidores a pagar pela audição de música do que até há algum tempo”, afirmou em comunicado. “Agora, todos podem consumir música legalmente da forma que escolherem: em streaming, dowload ou CD.” O comunicado contém ainda a manifestação de um desejo: “Esperamos que um mercado da música em recuperação encoraje artistas e empresas da música a editar mais música e que, por sua vez, os nossos empreendedores criem mais e melhores serviços para o seu consumo.”

Os resultados suecos, divulgados sexta-feira, acompanham os registados na Noruega, em que o volume de negócio cresceu 8% em 2012. Em queda continua a venda de música no formato CD. As receitas geradas por CD na Suécia caíram 15% (representam agora cerca de 35% do volume total de negócio) e a subida de 59% nas de discos de vinil não alteram a sua posição residual neste contexto (cerca de 1,4% das receitas totais).

A Billboard estabelece uma relação directa entre os números agora conhecidos e a origem sueca da maior empresa mundial de subscrição de música, a Spotify. Criada em 2008, disponibiliza um catálogo de 18 milhões de canções aos seus 15 milhões de utilizadores activos e aos cerca de cinco milhões de clientes que pagam pela subscrição. A empresa que, tal como noticiado em Dezembro, iniciará actividade em Portugal este ano, permite a audição de música de forma gratuita (nesse caso, as canções são intercaladas com anúncios publicitários) ou mediante o pagamento de uma mensalidade (sem publicidade). Em Espanha, uma mensalidade de 4,99€ permite a audição do catálogo Spotify no computador e uma de 9,99€ alarga as possibilidades de consumo musical aos dispositivos móveis.

Este tipo de plataformas, da qual a Spotify é a mais poderosa em abrangência de catálogo e número de clientes (em Portugal existe o Music Box), não é porém consensual. Estrelas como Rihanna ou Taylor Swift mantêm a sua música fora do Spotify e bandas como os Grizzly Bear ou os Black Keys expuseram publicamente dúvidas quanto aos seus benefícios, apontando, como relembrava ontem o The Independent, que os valores que revertem para os músicos são diminutos quando comparados com as fontes tradicionais de receita. O Spotify devolve 70% do dinheiro que gera à indústria musical como pagamento de direitos autorais. Dessa quantia, 20 a 25%, estima o editor da Music Week, Tim Ingham, revertem para os músicos. Bastante mais, ainda assim, que o zero de receitas geradas para os artistas pela pirataria e partilhas de ficheiros. Talvez por isso os Metallica, ferozes opositores das partilhas de ficheiros que, em 2000, processaram o pioneiro Napster, tenham aceitado o mês passado disponibilizar o seu catálogo no Spotify.

Will Hope, um dos representantes da Spotify para o Reino Unido e resto da Europa, dizia sexta-feira ao The Independent: “Queremos criar uma solução e um contraponto [à partilha de ficheiros e pirataria].” No mesmo artigo, Bill Ingham afirmava que, para que o Spotify tenha sucesso na distribuição de rendimentos aos músicos, “é necessário que atinja uma determinada escala”. Ou seja, precisa que a música do seu catálogo contemple os maiores nomes da indústria. “Ter os Metallica significa que, no futuro, outros artistas e os próprios Metallica começarão a recolher receitas que consideram uma retribuição justa.”

Nos últimos cinco meses, escreve o The Independent, o pagamento de direitos autorais a artistas pelo Spotify duplicou, atingindo 375,4 milhões de euros.

Notícia corrigida dia 21, às 11h51

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