O riso de Sondheim

Já vi duas vezes o estupendo documentário Six by Sondheim produzido pela HBO e realizado por James Lapine, o libretista que tem colaborado com Sondheim desde 1982.

É um retrato mais completo que já vi de um compositor-letrista. É feito por um amigo com amizade e, como tal, é o próprio Sondheim que mais aparece, a falar de si e das canções dele desde que começou a escrevê-las até ao ano passado.

Antes de ser operada ao coração a mãe de Sondheim fez questão de lhe entregar uma carta em que dizia que só se tinha arrependido de uma única coisa na vida: de lhe ter dado vida.

Sondheim tinha 40 anos mas já tinha a arte dele, amigos, amores e anos de psicanálise para se defender de tanto amor materno.

É Jarvis Cocker que canta, com inspirada reserva, I'm Still Here: a sequência - um subtil estudo de rostos e de reacções - é realizada por Todd Haynes.

Sondheim explica que escreveu a canção para a actriz Yvonne De Carlo, como afirmação de sobrevivência. A ambiguidade desta alegria é mantida com humor e vaidade.

Aplica-se igualmente a Sondheim, que atribui o início da salvação dele a Oscar Hammerstein II ("se ele tivesse sido um arqueólogo eu teria seguido arqueologia").

A história da vida de Sondheim dava um musical antigo, dos bons, de Rodgers e Hammerstein, com um final feliz e tudo. O Sondheim que ficamos a conhecer é neurótico, vaidoso, pedagógico, cintilante e engraçadíssimo. O que mais espanta é a alegria do homem, que é uma alegria ver.

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