O que dizem estas catacumbas sobre mulheres-padres?

Tecnologia laser relança debate a partir dos frescos de uma cemitério subterrâneo em Roma.

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O fresco do "Cubiculum da Mulher do Véu" Max Rossi/Reuters
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Muitas são as representações de mulheres nas paredes decoradas Max Rossi/Reuters
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As galerias subterrâneas receberam também nova iluminação Max Rossi/Reuters
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Muitas das ossadas são ainda visíveis para que o visitante tenha maior noção de como eram dispostos os corpos Max Rossi/Reuters
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Os sarcógafos e fragmentos de esculturas têm agora uma sala à parte que funciona como um pequeno museu Max Rossi/Reuters
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As inscrições em lápides são frequentes Max Rossi/Reuters
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Muitos fragmentos de esculturas foram deixados para trás no saque do século XVI Max Rossi/Reuters
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Os espaços têm dimensões e ocupações variadas Filippo Monteforte/AFP
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As catacumbas têm 13 quilómetros e estão entre as mais importantes de Roma Max Rossi/Reuters
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A iluminação é ténue para proteger os frescos Filippo Monteforte/AFP

Depois do restauro das Catacumbas de Priscila há quem defenda que os frescos destes subterrâneos que serviram para sepultar cristãos entre os séculos II e V mostram que a igreja dos primórdios era bem mais progressista no que toca à ordenação de mulheres.

Relacionar este tema com o cemitério romano redescoberto no século XVI, escavado 300 anos depois e que acaba de reabrir depois de cinco anos de trabalhos de restauro não é novo, mas agita sempre as águas. De um lado as associações que querem ver as mulheres a desempenhar funções de sacerdotes na igreja católica, do outro, como seria de esperar, o Vaticano e os seus arqueólogos a dizer que as alegações não passam de “contos de fadas”.

Segundo a agência Reuters, o debate reacendeu-se agora porque os trabalhos de conservação no labirinto subterrâneo com 13 quilómetros dedicaram especial atenção às pinturas murais, que foram cuidadosamente limpas com recurso a tecnologia laser, revelando com maior nitidez pormenores que podem sustentar a tese de que as primeiras comunidades cristãs tinham mulheres-padres. É pelo menos nisto que acreditam as organizações Women’s Ordination Conference (norte-americana) e a Association of Roman Catholic Womenpriests (internacional), que vão buscar dois exemplares de frescos para ilustrar as suas teorias.

Um deles está num quarto conhecido como “Cubiculum da Mulher do Véu” e mostra uma figura feminina de braços erguidos, à semelhança de um padre que celebra missa. Diz a página oficial deste sítio arqueológico que as vestes que usa são litúrgicas e que até tem uma estola, faixa de tecido que faz parte dos paramentos usados pelos sacerdotes. Noutro espaço, “A Capela Grega”, está representado um grupo de mulheres sentado a uma mesa, evidenciando gestos reconhecíveis por quem assiste hoje a uma missa.

Interpretações "sensacionalistas"
Para Fabrizio Bisconti, o superintendente dos sítios arqueológicos religiosos propriedade do Vaticano, estas interpretações são absolutamente “sensacionalistas” e estão longe de serem fiáveis. À leitura dos grupos pró-ordenação de mulheres, Bisconti opõe a sua: o primeiro fresco representa “uma pessoa que morreu e foi para o paraíso” e as mulheres sentadas à mesa estão a participar no “banquete de um funeral” e não numa cerimónia litúrgica.

Os trabalhos de valorização destas catacumbas que têm ainda visíveis algumas ossadas e a que se acede através de um convento beneditino na Via Salaria, em Roma, passaram também pela criação de um pequeno museu destinado às lápides e aos sarcófagos usados na deposição dos corpos, bem como a dezenas e dezenas de fragmentos de esculturas que foram deixados para trás pelos que saquearam este cemitério depois da sua redescoberta, no século XVI.

Para os que não podem viajar até Roma, um protocolo celebrado entre o Vaticano e a Google Maps permite fazer uma visita virtual bem detalhada, associando a antiguidade à tecnologia contemporânea. Assim, muitos mais se poderão juntar ao debate sobre as mulheres-padres do começo do cristianismo e ficar a conhecer as catacumbas romanas que são também famosas por guardarem a mais antiga representação da Virgem com o Menino, um fresco da primeira metade do século III.

Estas catacumbas, das mais importantes de Roma, têm grande parte das suas paredes cobertas de frescos e terão sido nomeadas em homenagem a Priscila, membro de uma importante família da cidade e provavelmente a mulher de Acilius, cônsul que se coverteu ao cristianismo e foi por isso executado (forçado a lutar na arena com um leão) a mando do imperador Domiciano.

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