O Irão condena o Festival de Berlim por ter premiado Jafar Panahi

O realizador está impedido de filmar no Irão e condenado a seis anos de prisão domiciliária.

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O realizador Jafar Panahi AFP/ Atta Kenar

O ministro da cultura iraniano condenou a organização do Festival de Berlim pelo prémio de argumento a Close Curtain/Parde.

“Realizar estes filmes é um acto ilegal, mas até agora a República islâmica tem tido paciência”, diz a declaração do ministro Javad Shamaqdari, revelada pela agência iraniana ISNA.

Close Curtain, que recebeu o prémio de melhor argumento no dia 17 de Fevereiro, é um filme realizado em colaboração com Kambuzia Partovi, dissidente e amigo de Panahi, e é o segundo que o iraniano faz chegar ao Ocidente desde que em Dezembro de 2010 ficou proibido de filmar durante 20 anos e condenado a uma pena de prisão de seis anos.

Desde então Panahi realizou, em sua casa, Isto não é um filme (2011), que chegou a Paris, numa pen escondida dentro de um bolo, ao duo que dirige a Cinemateca Francesa, Serge Toubiana e Costa-Gavras, que o passou ao director artístico do Festival de Cannes, Thierry Fremaux. O título carregava em si ironia trágica: o realizador de O Balão Branco (Câmara de Ouro Cannes 2003), O Círculo (Leão de Ouro Veneza 2000) ou de Off Side estava (ainda está) impedido de escrever argumentos e de realizar filmes, mas como "isto não é um filme", não estaria a cometer infracção alguma já que não escreveu argumento algum e estava à frente da câmara, como actor...

O ministro admite o protesto junto dos organizadores do festival – “Achamos que os organizadores devem corrigir o seu comportamento. Toda a gente sabe que fazer um filme e enviá-lo para fora do país requer autorização.”

Close Curtain, rodado em apenas três semanas, com uma equipa reduzida de quatro pessoas, conta a história de um grupo fechado numa casa junto a um lago. O que tem sido lido como metáfora da repressão sobre Panahi e outros artistas. Segundo crónica do enviado do PÚBLICO, foi um filme “com direito a aplausos perplexos e até algumas vaias” e que “interliga a ficção com a exposição da sua criação de modo opaco.” Na conferência de imprensa em que apresentou o filme, Partovi – amigo de Panahi há mais de 30 anos – explicou que não é um filme “contra” o regime, mas um filme que nasceu das restrições impostas pelas circunstâncias, da depressão resultante da condenação e que questiona as próprias consequências dessas restrições.

Segundo o Hollywood Reporter, “um diário de exilado mais experimental e distanciado do que Isto não é um filme” que “requer boa vontade da parte do espectador para entrar nele e sentir prazer.”

"É impossível  parar um pensador e um poeta. O pensamento produz frutos em todo o lado”, disse Partovi quando aceitou o prémio em seu nome e em nome de Panahi.

 
 

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