O Coliseu de Roma deixou de ser uma "rotunda" pela qual circula o trânsito

Desde este sábado de manhã que o trânsito em redor do monumento histórico está proibido.

Presidente da Câmara de Roma pretende que a zona se torne numa via pedonal
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Presidente da Câmara de Roma pretende que a zona se torne numa via pedonal AFP
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Trânsito vai ser desviado para vias paralelas ao Coliseu Reuters

Há já um ano que uma grande intervenção ao Coliseu de Roma e à sua envolvente devia ter arrancado. Repentinamente, este sábado, com o anúncio imediatamente efectivo de proibição de circulação automóvel em redor do emblemático monumento, o plano parece, por fim, dar os primeiros passos, começando por tentar diminuir a poluição e as vibrações provocadas pelo intenso tráfego da capital italiana, que têm acelerado a deterioração do anfiteatro que é património mundial da Unesco desde 1980.

A medida, que visa tornar toda a zona num passeio pedonal, foi assumida pelo novo presidente da Câmara de Roma, Ignazio Marino, eleito há cerca de dois meses pelo Partido Democrático (PD) italiano. A decisão de encerrar a zona circundante do Coliseu, desviando o trânsito por uma via paralela, foi recebida, no entanto, com algumas críticas dos moradores e comerciantes locais, que temem o entupimento das outras vias. Marino, porém, não tem dúvidas de que esta medida é crucial.

“Temos um dos monumentos mais famosos do mundo e tornámo-lo numa rotunda”, disse o político de 58 anos à agência noticiosa AFP, explicando que, “com todo o respeito”, entre o interesse daquele que não pode parar o carro em frente à sua tabacaria e a protecção do Coliseu, é o bem estar deste último que escolhe. “Acredito que temos a responsabilidade de manter a riqueza da história para toda a humanidade, é mais importante do que um atalho”, disse ainda Marino à BBC.

Nos últimos anos, o Coliseu de Roma sofreu mesmo um desnivelamento e muitas das novas fissuras na sua estrutura foram atribuídas ao trânsito, porque embora uma parte importante à volta já tenha sido transformada em área pedonal, há ainda uma zona de circulação automóvel muito próxima, na qual passam todos os dias cerca de dois mil veículos por hora, segundo a Euronews.

A proibição, no entanto, não se aplica aos autocarros, táxis, bicicletas e viaturas de emergência, que continuarão a circular, ainda que com um limite de velocidade reduzido. A ideia de Marino é que a longo prazo toda a Avenida Foros Imperiais se torne pedonal.

 “Isto só criará mais caos. Os meus clientes estão chateados, não sabem como poderão chegar aqui a partir de agora e eu nem sei ainda como venho trabalhar”, reagiu ao The Telegraph Cinizia Perugini, que tem uma papelaria na zona. A proprietária teme que o comércio fique a perder. E Elvira Micieli, proprietária de uma loja de roupas, acusou ainda o novo presidente da câmara de não ter consultado ninguém na zona sobre as suas intenções. “Ele não pode simplesmente acordar um dia e mudar tudo drasticamente, não vivemos numa ditadura”, disse ao mesmo jornal britânico a comerciante, para quem Marino devia ter pensado primeiro “em coisas como estacionamento extra e melhores transportes públicos”.

Mas também há quem elogie a decisão. Claudio Lavanga, correspondente em Roma da NBC News escreve no site norte-americano que “finalmente as pessoas de Roma e os turistas vão poder estar frente ao mais famoso símbolo da Roma Antiga sem temerem ser atropelados por motoristas impacientes”. Este foi também um dos argumentos do presidente da Câmara de Roma que sublinhou que a partir de agora “os visitantes vão poder andar onde Júlio e Augusto César andaram”.

Espera-se agora que o restauro do monumento do século I avance a qualquer momento, uma vez que estava previsto para o ano passado.

Foi já em Abril de 2011 que o então primeiro-ministro Silvio Berlusconi oficializou um polémico acordo com Diego della Valle, o dono da marca de calçado Tod’s, que ficou responsável por pagar 25 milhões de euros por estas obras de restauro, beneficiando durante 15 anos dos direitos de imagem do Coliseu.

Em troca dos seus 25 milhões – valor do restauro do Coliseu –, a empresa de Diego della Valle fica com a gestão exclusiva do espaço, assumindo todas as decisões em vez do Estado. O que significa, por exemplo, que se alguém quiser usar a imagem do Coliseu de Roma num filme, numa campanha de publicidade ou anuncio televisivo terá que pedir autorização e pagar direitos à Tod’s.

Os trabalhos de restauro prevêem a recuperação das fachadas norte e sul, dos subterrâneos e a construção de um centro de serviços, numa tentativa não só de preservar o monumento como também de responder ao aumento do número de turistas que nos últimos dez anos passou de um milhão anual para seis milhões.

Corrigido o cargo de Silvio Berlusconi 

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