Novos testes voltam a desmentir tese de que Neruda foi assassinado pelo regime de Pinochet

Análises aos restos mortais do poeta chileno mostram apenas sinais de cancro. Resultados de exames ao ADN serão conhecidos nos próximos dias.

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A exumação, em Abril, na cidade costeira chilena de Isla Negra Eliseo Fernandez/reuters
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Neruda tinha 69 anos quando morreu AFP
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Mario Carroza na conferência de imprensa em que apresentou os resultados do estudo forense, ainda incompleto Hector Retamal/AFP

Sete meses depois de ter sido exumado o corpo de Pablo Neruda, as conclusões das análises aos restos mortais do poeta chileno foram tornadas públicas: a sua morte, em 1973, terá sido provocada pelo cancro, ficando assim à partida posta de parte a tese de que teria sido assassinado pelo regime de Augusto Pinochet.

Em Maio foram tornados públicos resultados de alguns exames que já indicavam que o escritor sofria de cancro da próstata metastizado. Agora, segundo dados revelados sexta-feira, foram confirmadas “várias leões de metástases em várias partes do esqueleto” e as análises também confirmam a “presença de fármacos para doenças oncológicas”.

“Não foram encontrados agentes químicos relevantes que possam estar relacionados com a morte de Pablo Neruda. Não foram encontradas provas forenses de causas de morte não naturais”, disse Patricio Bustos, director do Serviço de Medicina Legal do Chile, citado pelo diário espanhol El Mundo. Contudo, a disputa legal em torno da morte do poeta, autor de obras tão populares como Canto General e Vinte Poemas de Amor e Uma Canção Desesperada, pode não ficar por aqui.

Os resultados serão entregues ao juiz encarregue do processo, o chileno Mario Carroza, que já veio dizer, sem fechar a porta a novos testes, que o caso “não vai ser encerrado enquanto houver certas dúvidas”. Na origem destas dúvidas que envolvem as circunstâncias da morte do conhecido poeta chileno estão declarações do seu antigo motorista, Manuel Araya, que alegava que Neruda fora envenenado através de um injectável que lhe teria causado a morte.

Os motivos para um assassinato: Neruda preparar-se-ia para se exilar no México e organizar daí a resistência ao ditador Augusto Pinochet. “O plano era derrubar o tirano do estrangeiro em menos de três meses”, disse Araya em 2011, citado agora pelo diário espanhol El País, mas “aproveitaram que ele estava internado numa clínica e deram-lhe uma injecção fatal no estômago”.

Depois dessa denúncia do antigo funcionário do poeta, o Partido Comunista fez uma queixa oficial em 2011 e em Abril deste ano o corpo foi exumado para determinar não só a causa da morte, mas também se as ossadas pertenceriam mesmo a Neruda. Parte dos testes aos tecidos recolhidos do cadáver foram conduzidos nos EUA (Universidade da Carolina do Norte) e em Espanha (Universidade de Múrcia).

Nos próximos dias serão também conhecidos os resultados de testes ao ADN do cadáver exumado em Abril para confirmar se se tratam verdadeiramente dos restos mortais de Neruda. O advogado Eduardo Contreras, que representa o Partido Comunista no caso (cujas suspeitas são partilhadas pelo sobrinho de Neruda, Rodolfo Reyes), fala mesmo da possibilidade de a morte do poeta ter sido provocada por agentes químicos cujos vestígios desapareceram com o tempo.

Pablo Neruda, Prémio Nobel da Literatura em 1971, morreu a 23 de Setembro de 1973, 12 dias após o golpe militar que depôs o Presidente Salvador Allende, de quem era amigo, e que levou ao poder Augusto Pinochet, cuja ditadura durou até 1990. Tinha 69 anos e era militante, membro do Comité Central, senador e candidato à presidência pelo Partido Comunista.
 
 
 

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