Novo romance do angolano Pepetela lançado esta semana

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"Era importante fazer um retrato deste tipo de pessoas [novos burgueses] para que mais tarde se perceba o percurso de Angola"

Um retrato mordaz da nova burguesia formada desde a independência de Angola, em 1975, está no centro do enredo do novo romance do escritor Pepetela, intitulado "Predadores", lançado esta semana em Portugal.

Em declarações à agência Lusa, o autor, que se encontra em Lisboa para falar sobre a sua nova obra, publicada pela editora Dom Quixote, explicou que teve necessidade de escrever esta história para documentar a evolução do país.

"Era importante fazer um retrato deste tipo de pessoas para que mais tarde se perceba o percurso de Angola", comentou, acrescentando que o grupo social em causa "deve ser seguido de perto".

O escritor angolano, que recebeu o Prémio Camões em 1997, distinguindo o seu trabalho na literatura lusófona, vive em Angola, onde se dedica à escrita e dá aulas de Sociologia na Universidade de Arquitectura de Luanda.

Nascido em Benguela, em 1941, Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos (Pepetela) teve um percurso de vida marcado pelo activismo político, nomeadamente como guerrilheiro, representante do Movimento Popular para a Libertação de Angola (MPLA) e membro do Governo de Agostinho Neto.

Em "Predadores", o grupo social que retrata é personificado por Vladimiro Caposso, alguém que muda o seu passado e até o seu nome para escalar os degraus da política e da finança a fim de conseguir benefícios próprios e para a família.

Esta nova burguesia "formada a seguir ao fim da guerra colonial em Angola, ascendeu ou por ligações políticas aproveitando o aparelho de Estado ou através de negócios mais ou menos lícitos/ilícitos, tornando-se uma classe empresarial", retratou.

"É um grupo que produz pouco e vive mais dos negócios do que outra coisa. Não tem grande dimensão na sociedade angolana, mas tem uma influência enorme porque domina o aparelho de Estado", acrescentou.

No entanto, considera que existem alguns sinais de mudança, porque "há quem comece a cumprir a lei, a querer legalizar a própria situação e a exigir que os mecanismos do Estado funcionem, mas isto tem a ver com uma necessidade de proteger o próprio património" observou.

A maior estabilidade da moeda e o facto de existirem muitas empresas a querer investir em Angola "são indicadores que mostram que há melhorias económicas, mas ainda não há resultados do ponto de vista social", disse ainda.

"A maioria da população não sente ainda essas melhorias. Os camponeses começam agora a comer aquilo que plantaram, o que não acontecia até agora, pois estavam dependentes da ajuda internacional. Isto é muito importante até para a auto-estima das pessoas", salientou.

"Predadores", que só será lançado em Angola em Novembro, junta-se a mais de uma dezena de romances de Pepetela, entre eles "Jaime Bunda, o agente secreto" (2002), "A Montanha da Água Lilás, fábula para todas as idades" (2000), "O Desejo de Kianda" (1995), e "A Gloriosa Família" (1997), "O Cão e as Caluandas" (1985) e "Muana Puó" (1978).

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