Museu dos judeus polacos quer celebrar a vida e não a morte

Novo museu que abriu em Varsóvia não é só sobre o Holocausto, mas sobre a história dos judeus desde a Idade Média

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A entrada principal do museu
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O arquitecto finlandês Rainer Mahlamäki
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O museu situa-se no local do antigo gueto de Varsóvia
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Aspecto interior do museu
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Aspecto interior do museu
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A ideia do museu surgiu há 20 anos
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As paredes interiores do museu são onduladas
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Parte da fachada do museu é em vidro
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O que resta do gueto de Varsóvia
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O museu foi inaugurado no dia em que se assinala o início da revolta dos judeus – 19 de Abril de 1943 – no gueto de Varsóvia contra as tropas alemãs
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Um dos pontos fortes do museu é a reconstrução do tecto de uma sinagoga antiga
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A réplica de uma cobertura da sinagoga em Gwozdzca
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Uma escada na zona de exposições

O Museu da História dos Judeus Polacos, em Varsóvia, teve a sua pré-inauguração a 19 de Abril, no 70º aniversário da revolta do gueto de Varsóvia. Setenta anos depois do Holocausto, o museu apresenta a história dos judeus polacos, num país que até à II Guerra Mundial tinha uma das maiores comunidades judaicas na Europa. “Quero que este museu seja um museu da vida e não um museu da morte”, disse à Reuters o director interino do museu, Andrzej Cudak.

Os curadores do museu vão primeiro apresentar exposições temporárias, sendo que a exposição permanente e nuclear do museu – representativa da história milenar dos judeus polacos - será inaugurada em 2014. Essa exposição nuclear do museu está a ser desenvolvida por uma equipa de 120 investigadores, coordenada pela investigadora Barbara Kirshenblatt-Gimblett, da Universidade de Nova Iorque. 

“A ideia para este museu surgiu em 1996, apenas uns anos depois da queda do comunismo”, disse Kirshenblatt-Gimblett à agência de notícias Jewish Telegraphic Agency (JTA). “Os esforços feitos nas últimas duas décadas para renovar a vida judaica, recuperar o passado judeu e promover um debate e diálogo aberto sobre os momentos mais difíceis na história da Polónia dos judeus polacos criou uma base de suporte para esta iniciativa”, acrescentou. 

O edifício, desenhado pelos arquitectos finlandeses Rainer Mahlamäki e Ilmari Lahdelma, em colaboração com os arquitectos locais Kurylowicz & Associados, tem na sua fachada a palavra "Pollin" (mulher/rapariga polaca) escrita em hebraico e latim.

<_o3a_p>Financiado pelo Ministério da Cultura, pela cidade de Varsóvia e pela Associação do Instituto de História Judaica, o museu foi inaugurado no dia em que se assinala o início da revolta dos judeus – 19 de Abril de 1943 – no gueto de Varsóvia contra as tropas alemãs. Incluindo oito galerias e a reconstrução do tecto de uma sinagoga de madeira do século XVII, o museu localiza-se na área que há setenta anos era ocupada pelo gueto de Varsóvia.

Embora uma das oito galerias se dedique aos acontecimentos do Holocausto, Robert Supel, o director de projecto do museu, disse à Reuters que este não pretende ser “mais um museu-tipo sobre o Holocausto”. “Antes de mais estamos a falar de vida, de cultura, da troca de influências entre nações, de todos os aspectos da vida judaica na Polónia, desde o período medieval”.

Antes da II Guerra Mundial, a Polónia tinha uma das maiores populações judaicas na Europa, com 3,3 milhões de judeus a perfazer mais de um décimo da população total, escreveu o JTA. Durante o Holocausto. mais de três milhões de judeus polacos, representando 90% da população judaica, foram mortos. No rescaldo da II Guerra, milhares de sobreviventes abandonaram o país e na década de 1960 muitos judeus voltaram a emigrar na sequência de campanhas anti-semitas do regime comunista.

A presença judaica na Polónia é agora diminuta: em 2011, o census indicava que cerca de 7500 judeus viviam na Polónia. Desde o fim do domínio comunista, há vinte anos, que várias capitais do Leste europeu têm assistido a uma lenta renovação das suas comunidades judaicas.

Um estudo conduzido em Março pelo instituto de opinião pública Homo Homini – com uma amostra de 1250 estudantes de vinte escolas secundárias da capital polaca – indicou que mais de 44% dos estudantes inquiridos prefere não ter vizinhos judeus e mais de 60% dos jovens entre 17 e 18 anos disse não gostar de ter namorados ou namoradas de origem judaica. O estudo foi encomendado pela Comunidade Judaica de Varsóvia, um dos maiores grupos judeus do país. O seu responsável, Piotr Kadlcik, espera que o museu possa dar a conhecer a forma como os judeus e polacos têm co-existido ao longo da História. “Não estamos à espera que o museu seja o remédio para todos os problemas nas relações entre polacos e judeus, disse Kadlcik à Reuters. “Mas se ajudar em parte, isso já será um sucesso”, acrescentou.

“Queremos criar um centro de diálogo e discussão”, disse Lucja Koch, do departamento educativo do museu, numa entrevista à Rádio Polaca. “É por isso que – simbolicamente – existem cinco pontes neste edifício. Elas ligam os diferentes espaços. Queremos ligar o passado com o presente. Queremos relembrar as gerações mais novas daquilo que foi uma Polónia multiétnica. Mas não o fazemos falsificando a história e apresentando-a como uma história bonita, porque não foi isso que aconteceu”, sublinhou.
 

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