Morreu Malik Bendjelloul, o realizador que nos devolveu Rodriguez

Com À Procura de Sugar Man, vencedor do Óscar para melhor documentário em 2013, o sueco contou uma das mais incríveis histórias da folk norte-americana.

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Malik Bendjelloul tinha 36 anos ANDERS WIKLUND/TT News/AFP

Realizador, produtor, guionista, montador e ilustrador de À Procura de Sugar Man, o documentário sobre Sixto Rodriguez que venceu o Óscar da categoria em 2013, o sueco Malik Bendjelloul foi encontrado morto em sua casa, em Estocolmo, nesta terça-feira. Tinha 36 anos.

O cineasta suicidou-se, confirmou o seu irmão, Johar Bendjelloul, ao jornal sueco Aftonbladet, nesta quarta-feira. “Ele estava deprimido já há algum tempo”, disse. “A vida nem sempre é fácil. Fiquei junto a ele até ao fim”, lamentou Johar Bendjelloul, acrescentando que este é um período difícil e que não sabe como geri-lo.

Segundo a Associated Press, citada pelos media internacionais, as autoridades suecas não encontraram indícios de crime. Antes das declarações do irmão do realizador, já a porta-voz da polícia local, Pia Glenvik, tinha dito à agência noticiosa, sem especificar a causa da morte, que o corpo foi encontrado ao fim do dia desta terça-feira.

Bendjelloul estreou-se cedo, aos 12 anos, como actor numa série da estação pública sueca, a SVT. Estávamos em 1990. Mais tarde, estudou jornalismo na Universidade Lineu de Kalmar, no Sul da Suécia, país onde nasceu a 4 de Setembro de 1977, filho de um pai médico e de uma mãe dedicada às artes da pintura e da tradução. Voltou então à SVT, como repórter, emprego que acabou por deixar para trás para viajar pelo mundo.

Estava na Cidade do Cabo quando ouviu falar pela primeira vez de Sixto Rodriguez, figura de culto da folk norte-americana que apareceu na cena musical de Detroit no final da década de 1960, gravou dois discos no início da década seguinte – que viriam, sem que ele o soubesse, a ser a banda sonora da resistência contra o apartheid na África do Sul –, voltou uns anos depois e pouco depois desapareceu. Teria morrido?

Havia quem dissesse que sim, que Rodriguez se tinha suicidado em palco. Ou que tinha morrido com uma overdose. Nada de provas, nada de notícias nos jornais. Mas como poderiam os sul-africanos, que contavam entre si estes rumores, acreditar que o autor das canções que sabiam de cor não era falado em lugar algum? Quando descobriram Rodriguez vivo, convidaram-no para um concerto e receberam-no em delírio. Era 1998.

No entanto, só depois de Bendjelloul ter decidido ir à procura de Sixto Rodriguez de câmara em punho é que o resto do mundo, à parte a África do Sul e a Austrália – onde as composições do norte-americano eram também muito apreciadas por um conjunto de melómanos –, ficou a conhecer a incrível história do músico que passou quatro décadas em lugar nenhum

À Procura de Sugar Man estreou-se em Sundance, em Janeiro de 2012, a data em que Rodriguez renasceu para a cultura popular e em que o seu nome – e, especialmente, os seus dois álbuns, Cold Fact (1970) e Coming from Reality (1971) – começou a espalhar-se pelo mundo. O documentário seguiu depois para vários festivais, chegou a algumas salas comerciais e foi, finalmente, nomeado para o Óscar que acabou por vencer.

 A estatueta dourada (e o Bafta, e o prémio da Guilda dos Produtores da América, entre outros prémios que também ganhou) abriu novas portas ao filme, sobretudo nos mercados europeu e asiático. Portugal foi um dos países com estreia pós-Óscar, em Junho do ano passado. No entanto, antes de o filme ser exibido nas salas nacionais, os portugueses tinham a banda sonora disponível nas lojas. Malik Bendjelloul, que deixa como legado este único filme, dizia que era “a melhor banda sonora de todos os tempos”. Com Catarina Moura

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