Morreu Cloetha Staples, voz da instituição soul chamada Staple Singers

Cloetha Staples, uma das vocalistas na banda de Respect yourself ou Freedom highway, tinha 78 anos

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Os Staple Singers na década de 1970. Cloetha Staples é a primeira à esquerda. DR

Os Staple Singers eram um assunto de família e, enquanto tal, nas décadas de 1960 e 1970 tornaram-se representantes da soul e do gospel enquanto afirmação de uma comunidade e voz da luta pelos seus direitos. Cleotha Staples, a irmã mais velha da banda reunida pelo pai Roebuck “Pops” Staples morreu quinta-feira na sua casa em Chicago, confirmou este sábado à imprensa norte-americana o seu agente, Bill Carpenter. Cleotha tinha 78 anos e desde os 66 estava diagnosticada como doente de Alzheimer.

“Pops” Staples era um homem do sul dos Estados Unidos que, na juventude, conviveu com gigantes do blues como Charley Patton. Aprendeu bem a música do Diabo e melhor ainda o gospel, que cantava e ouvia nas igrejas locais. Cloetha, a mais velha dos seus cinco filhos com Oceola Staples, nasceu em Drew, no Mississípi, em 1934, mas os Staple Singers só ganhariam vida em Chicago, para onde a família se mudou em 1936, como tantas outras nesse período, em busca dos melhores ordenados e condições de vida das cidades industrializadas a norte.

À medida que os filhos foram chegando (depois de Cloetha nasceram ainda nos anos 1930 Pervis, Yvonne e Mavis e, já na década de 1950, Cynthia), a música tornou-se para “Pops” uma forma de distrair e manter reunida à sua volta a família. Enquanto tocava a sua guitarra de 10 dólares, ensinava-lhes as canções gospel que conhecia desde a juventude. A banda tornou-se uma realidade quando a família passou de casa para as igrejas e quando os outros fiéis começaram a oferecer-lhe generosos donativos pelas actuações. Em 1948, nasciam oficialmente os Staple Singers. Cinco anos depois, surgiam os primeiros discos.

O envolvimento com o movimento dos direitos civis torna-o, nas décadas seguintes, um grupo respeitado, inspirador e requisitado – Martin Luther King convida-o regularmente para participar nas acções que desenvolvia. A sua música, por sua vez, começou a reflectir o empenho activista: nascem então versões de Blowing in the wind, de Bob Dylan, e canções como Freedom highway ou Why (Am I treated so bad). “Pops” e Mavis eram as vozes principais na maioria das canções da banda, apoiados pelo soprano de Cloetha e restantes irmãs.

A influência de Cloetha era, porém, determinante a mais do que um nível. "[As irmãs] costumavam chamar-lhe avózinha porque ela era sempre sensata e estava sempre consciente das melhores opções a tomar", contou à Billboard Bill Carpenter. "Muitas cantoras tentavam cantar como ela", afirmou Mavis em comunicado, citado pela mesma revista. "A sua voz tilintava nos nossos ouvidos. Não era ríspida nem nos atingia agressivamente, era suave. Deu-nos aquele som country."

No final dos anos 1960, quando se juntaram ao catálogo da mítica Stax, editora de Otis Redding, Isaac Hayes, Sam & Dave ou Rufus Thomas, os Staple Singers iniciaram o período mais criativo da sua carreira. Com os Booker T & The MGs como banda suporte, irrompem nos tops com Respect Yourself ou I’ll take you there (número 1 nos Estados Unidos em 1972). Tornaram-se, pela força e integridade das canções, uma das bandas mais respeitadas da soul. Cloetha, imprescindível na dinâmica vocal da banda, também se ouviria enquanto voz principal em, por exemplo, Uncloudy day, um clássico gospel numa versão de 1969.

Foi já enquanto instituição, mas sem o impacto comercial de outrora, que chegaram à década de 1980 e que atravessaram as seguintes. Em 1999, um ano antes da morte de “Pops”, foram incluídos no Rock’n’Roll Hall Of Fame. Seis anos depois foi-lhes atribuído um Grammy de carreira.

“Continuaremos”, disse Mavis no seu comunicado citado pela Billboard. “A Yvonne e eu continuaremos a cantar para manter vivo o legado do nosso pai e da nossa irmã.” Continua a ser um assunto de família.

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