Manoel de Oliveira teve aplausos e flores no seu regresso aos palcos

Realizador de Aniki-Bobó foi homenageado pelo Fantasporto na passagem dos 70 anos sobre a estreia da sua primeira longa-metragem.

Fotogaleria
Manoel de Oliveira acompanhado da sua mulher e ao fundo o director do Fantasporto, Mário Dorminsky Fernando Veludo
Fotogaleria
O realizador Manoel de Oliveira e a "Teresinha", Fernanda Matos, a estrela de "Aniki-Bobó" Fernando Veludo
Fotogaleria

Manoel de Oliveira recebeu na noite desta quarta-feira um banho de multidão (e de comunicação social) no Rivoli, onde se deslocou para ser homenageado pelo Festival Internacional de Cinema do Porto, a pretexto dos 70 anos de Aniki-Bobó (1942), que foi estreado nesta cidade em Janeiro de 1943.

À chegada ao teatro Rivoli, o realizador, de 104 anos, foi quase engolido pelos fotógrafos e repórteres de televisão. Tratava-se da primeira saída “mediática” de Manoel de Oliveira à rua após o problema de saúde que obrigou ao seu internamento num hospital no Porto, no último Natal. Com a saúde e o sentido de humor recuperados, o autor de Os Canibais comentou que a saída de casa numa noite de chuva era boa “para refrescar as ideias”.

Ainda no hall do Rivoli, Oliveira reencontrou-se com a "Teresinha" (Fernanda Matos), a “estrela” de Aniki-Bobó, que não escondia a sua felicidade por esta nova oportunidade de viajar no tempo na companhia do seu realizador. “É sempre uma emoção renovada”, dizia a “Teresinha” ao PÚBLICO. “Nunca imaginámos que iríamos estar agora aqui, depois destes anos todos”, acrescentava, referindo-se a Oliveira e à sua mulher Maria Isabel Carvalhais, que o acompanhava.

Já no palco do teatro municipal, Fernanda Matos chamava ao realizador “o génio do nosso cinema”. E o director do Fantasporto, Mário Dorminsky, lembrou o carácter pioneiro de Aniki-Bobó, ao ter feito “a antecipação do neo-realismo italiano”.

Depois de ter recebido flores e postais, com mensagens relativas ao filme, de estudantes de História de Arte da Escola Secundária Aurélia de Sousa, Manoel de Oliveira recordou que nem tudo foram rosas à altura do lançamento do seu filme. “Poucas semanas depois da estreia, o Aniki-Bobó teve de ser retirado das salas por falta de público, e devido às críticas negativas que teve”, disse o realizador, reconhecendo, todavia, que a espera valeu a pena – “como se pode ver agora com este acolhimento excepcional”, agradeceu, referindo-se à sucessão de aplausos da plateia que quase enchia o Rivoli.

Aniki-Bobó, ou a Loja das Tentações, a primeira longa-metragem de Oliveira, teve a sua estreia em Lisboa, no Cinema Éden, a 18 de Dezembro de 1942, tendo chegado ao Porto apenas no mês seguinte, a 11 de Janeiro, no então designado São João Cine. O desencontro das críticas – o filme foi elogiado, por exemplo, pelo poeta António Botto, que viu nele “o encanto das coisas despretensiosas e belas, no seu aprumo de simplicidade emotiva, recortada duma intenção social e popular”, mas houve quem alertasse para "uma infame cilada armada à inocência das crianças” – obrigou à sua retirada de cartaz após apenas cinco semanas de exibição em Lisboa e três no Porto. Nesse tempo, era normal que um filme português com sucesso ultrapassasse os três meses em cartaz...

A exibição de Aniki-Bobó no Fantasporto veio agora permitir a sua revisão (e a sua descoberta) a diferentes gerações de espectadores que quiseram marcar presença no grande auditório do Rivoli nesta nova homenagem a Manoel de Oliveira.
 
 

Sugerir correcção
Comentar