Manoel de Oliveira homenageado no Porto perto dos seus 105 anos

Realizador acalenta ainda a esperança de concretizar o seu novo projecto, a média-metragem O Velho do Restelo.

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Oliveira acredita que há 2uma grande indiferença" no país em relação às obras que realizou Fernando Veludo/NFactos
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O presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, considerou Aniki-Bóbó "património da cidade" Fernando Veludo/NFactos
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A eterna "Teresinha" de Aniki-Bóbó, Fernanda Matos, também marcou presença Fernando Veludo/NFactos
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Manoel de Oliveira ouviu o escritor Mário Cláudio dedicar-lhe "um conjunto de notas amigas" e a "eternidade do futuro" Fernando Veludo/NFactos

Nem os seus quase 105 anos, nem as falhas de memória e a natural dificuldade de movimentos impediram que Manoel de Oliveira tivesse, esta quinta-feira ao final do dia, correspondido com a satisfação e a bonomia habituais à homenagem que lhe foi prestada pela 10.ª edição do ciclo de cinema documental Imagens do Real Imaginado (IRI), promovido pela Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo (ESMAE)/Instituto Politécnico do Porto.

O realizador fez mesmo questão de subir ao palco da Biblioteca Municipal Almeida Garrett – “lá em cima fico mais destacado”, gracejou – para, perante uma sala lotada, agradecer mais este tributo da sua cidade, que incluiu mais uma exibição da sua primeira longa-metragem, Aniki-Bobó (1942), na presença de uma das suas protagonistas, a eterna “Teresinha” (Fernanda Matos).

“Quando o filme apareceu, foi mal acolhido, mas, com o tempo, tornou-se no meu filme mais popular”, recordou o realizador, que, antes, tinha ouvido o novo presidente da câmara, Rui Moreira, falar de Aniki-Bóbó como “património da [nossa] cidade”, mesmo se se trata de uma obra universal e de "uma bela lição de cinema e de humanidade".

A sessão do ciclo IRI, este ano dedicado ao tema Utopia(s), incluiu o lançamento de duas novas publicações: um catálogo, com dez ensaios e dez portfolios, dedicado à primeira década da iniciativa; e uma edição francesa, Aniki-Bóbó. Enfants dans la Ville, que reúne o conto Meninos Milionários, de Rodrigues de Freitas - que esteve na origem do filme -, o argumento escrito pelo próprio realizador e ainda um DVD com a obra.

Depois, Manoel de Oliveira ouviu o escritor Mário Cláudio oferecer-lhe “um conjunto de notas amigas” e falar do “chão comum” de ambos, criadores portuenses que vêm trilhando o mesmo chão de Amadeo e Suggia, de Camilo e Agustina, até que chegue “a eternidade do futuro”.

Antes do início da sessão, em declarações aos jornalistas, Manoel de Oliveira reafirmou o desejo de concretizar o projecto de um novo filme, O Velho do Restelo, para o qual espera ainda financiamento público. Este é, de resto, um dos temas da entrevista que o cineasta deu aos Cahiers du Cinéma, na qual, citado pela Lusa, diz que “fazer este filme é como ganhar uma batalha”. “É difícil; a conjuntura económica trava e fragiliza a sua montagem financeira”, acrescentou Oliveira, que para O Velho do Restelo quer casar textos de Camões e Cervantes, Camilo e Teixeira de Pascoaes.

Na entrevista, feita pelo investigador António Preto e publicada na edição de Novembro da revista francesa, Oliveira deixa ainda um lamento: “Penso que no país há uma grande indiferença pelo que já realizei. Tanto faz que o meu cinema exista ou não exista”.

O Velho do Restelo será uma média-metragem, com actores portugueses, e tem um orçamento de 350 mil euros, que o produtor Luís Urbano conta conseguir em breve, para arrancar com a rodagem no começo de 2014, avançou à Lusa.

Mas Manoel de Oliveira acha que “o mais certo é que o dia do 105.º aniversário chegue antes do subsídio”, disse esta quinta-feira, no Porto, aos jornalistas.
 
 
 
 

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