Manoel de Barros agradece prémio da Casa da América Latina com poema inédito

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Manoel Bandeira dr

O prémio literário da Casa da América Latina distingue este ano o poeta Manoel de Barros. O decano da poesia brasileira não se desloca a Lisboa para receber o galardão, no valor de dez mil euros, que será entregue nesta quinta-feira à filha. Mas o autor de Livro sobre Nada fez questão de agradecer com um poema inédito, que o PÚBLICO revela pela primeira vez.

Manoel de Barros é, aos 95 anos, uma dupla estreia no Prémio de Literatura Casa da América Latina/Banif. Instituído em 2005 com o intuito de distinguir obras de autores latino-americanos vivos publicadas em Portugal, o galardão ainda não tinha na lista de vencedores qualquer livro de poesia, ou qualquer autor brasileiro.

Poesia Completa

, que a Caminho editou no ano passado, reuniu a unanimidade ao colectivo de jurados do prémio, constituído por Maria Fernanda de Abreu, presidente do júri, pelo poeta e professor universitário Fernando Pinto do Amaral e pelo poeta José Manuel de Vasconcelos, em representação da Associação Portuguesa de Escritores.

A filha de Manoel de Barros, Martha Barros, receberá o prémio, em nome do pai, das mãos de António Costa, na qualidade de presidente da comissão executiva da Casa da América Latina, e do presidente do Banif, Luís Amado. O secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas, também estará presente na cerimónia, marcada para o meio-dia desta quinta-feira.

Ainda nesta quarta-feira, às 19h, a Casa da América Latina exibe o documentário Só Dez Por Cento é Mentira – a Desbiografia Oficial de Manoel de Barros, realizado por Pedro Cezar e estreado em 2009. O filme será comentado por Martha Barros.

Manoel de Barros, que nasceu em Dezembro de 1916 em Cuiabá, no Estado de Mato Grosso, é o “poeta maior” do Brasil, nas palavras de Carlos Drummond de Andrade, e obteve ao longo da sua longa carreira importantes prémios literários, como o Prémio Nacional de Poesia (1966), o Prémio Jabuti (1989 e 2002) ou o Prémio da Academia Brasileira de Letras (2000). Está editado em Portugal com as chancelas da extinta Quasi e da Caminho.

Poema inéditoFôssemos merecidos de água, de chão, de rãs, de árvores, de brisas e de garças!
Nossas palavras não tinham lugar marcado. A gente andava atoamente em nossas origens.
Só as pedras sabiam o formato do silêncio. A gente não queria significar, mas só cantar.
A gente só queria demais era mudar as feições da natureza. Tipo assim: Hoje eu vi um lagarto lamber as pernas da manhã. Ou tipo assim: Nós vimos uma formiga frondosa ajoelhada na pedra.
Aliás, depois de grandes a gente viu que o cu de uma formiga é mais importante para a humanidade do que a Bomba Atômica.
Notícia corrigida no dia 25/05, às 15h26, no poema estava escrito graças em vez de garças
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