Livros para o Natal

Pode ser que o futuro não seja do livro em papel, mas as bibliotecas permanecerão catedrais de rara beleza e inspiração.

No topo da minha lista para este Natal vem um livro comovente e inesperado: International Aid and Private Schools for the Poor: Smiles, miracles and markets (Edward Elgar), por Pauline Dixon. A autora visitou alguns dos bairros mais pobres da Índia e de África, onde descobriu o improvável: redes de escolas primárias privadas, com propinas baixas e apoio entusiástico das famílias, sem subsídios do Estado. Porque será que os pais as preferem, em vez de recorrerem às sonolentas escolas estatais, que não cobram propinas e são inteiramente pagas pelo dinheiro dos contribuintes?

Seria uma leitura interessante para o batalhão de professores, investigadores e activistas afins, pagos pelo Estado, que entre nós vocifera diariamente contra o Ministério da Educação porque este... não lhes dá mais dinheiro. A este respeito, seria também interessante observar que a escola de gestão portuguesa mais bem cotada no prestigiado ranking do Financial Times – a da Universidade Católica, que acaba de atingir o 25.º lugar – simplesmente não é paga pelo Estado. O mesmo acontece com as vinte melhores universidades do mundo, das quais 17 são norte-americanas, duas inglesas e uma japonesa. A percentagem de financiamento estatal nos seus orçamentos anuais é praticamente irrelevante.

When the Money Runs Out: The End of Western Affluence, por Stephen King (Yale University Press), seria outra leitura interessante para os acima referidos "reivindicadores", a começar por um ex-ministro da Ciência. Solenemente, veio indicar-nos no sábado passado o caminho a seguir: gastar mais dinheiro dos contribuintes. Só que, como explica Stephen King, o dinheiro dos contribuintes já não chega. Talvez fosse boa altura de perguntar porquê.

A razão foi explicada há 30 anos por uma senhora que morreu em Abril passado, Margaret Thatcher. "Eles gastaram todo o dinheiro dos outros", disse ela, referindo-se à generosidade despesista dos políticos com o dinheiro dos contribuintes. A biografia autorizada de Margaret Thatcher foi agora publicada por Charles Moore. Trata-se apenas do primeiro volume, sob o título Not for Turning (Allen Lane).

Talvez estes livros pudessem merecer alguma atenção entre nós e na União Europeia, cujo Parlamento vai enfrentar eleições de resultados imprevisíveis em Maio do próximo ano. Luuk van Middelaar, um holandês que actualmente assessora Van Rompuy, Presidente do Conselho Europeu, escreveu um interessante livro sobre a UE: The Passage to Europe (Yale University Press). Sublinhando o sucesso do projecto europeu, Van Middelaar enfrenta com abertura as dificuldades da UE em ganhar raízes nos eleitorados nacionais.

Esta mesma dificuldade é enfrentada de forma algo abrasiva por um deputado inglês do Parlamento europeu, Daniel Hannan. Em Inventing Freedom: How the English-Speaking Peoples Made the Modern World, o autor recorda com eloquência, e algum exagero, o inegável contributo dos povos de língua inglesa para a liberdade moderna. Não é um livro imparcial, mas pode ser uma boa introdução à intrigante excentricidade britânica em matérias europeias.

Além das eleições parlamentares, o próximo ano na Europa assinalará o centenário do início da I Guerra Mundial. Entre as inúmeras obras de qualidade já disponíveis, destaca-se o livro de Margaret MacMillan, The War that Ended Peace (Profile Books). É já considerado uma referência  na reflexão sobre as origens do conflito que misteriosamente pôs cobro a cem anos de paz e prosperidade na Europa.

Entre os livros de autores portugueses, a minha escolha recai em quatro títulos de muitos outros que o espaço não permite citar. Gabriel Paquete, da Universidade Johns Hopkins, publicou uma grande obra sobre o mundo de língua portuguesa em Imperial Portugal in the Age of Atlantic Revolutions: The Luso-Brazilian World, 1770-1850 (Cambridge University Press). Manuel Braga da Cruz revisita alguns temas do mesmo período da nossa história, bem como outros mais recentes, em Raízes do Presente: Estudos de História Contemporânea (Aletheia). Zita Seabra retoma os diálogos com Pe. Gonçalo Portocarrero de Almada em As palavras da Palavra: Dicas sobre as parábolas de Jesus (Aletheia). E Adriano Moreira lança amanhã, na Academia das Ciências, mais um título da sua vasta obra: Memórias do Outono Ocidental: Um século sem bússola (Almedina).

Quanto aos álbuns do ano, a minha escolha vai para The Library: A World History (Thames & Hudson), por James Campbell. Pode ser que o futuro não seja do livro em papel, mas as bibliotecas permanecerão catedrais de rara beleza e inspiração – como as belas imagens deste livro, em papel, sugerem com elegância tocante.
 

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