Quadro Liberdade de Delacroix foi vandalizado mas já está restaurado
Se há quadros icónicos, que fazem parte do imaginário colectivo, A Liberdade Guiando o Povo, de Eugène Delacroix, é claramente um deles. Esta pintura que evoca o ímpeto revolucionário francês, em exposição na extensão do Museu do Louvre em Lens, foi vandalizada na quinta-feira ao fim da tarde, mas os efeitos deste acto cujas motivações estão ainda por apurar já foram apagados.
Ontem, pouco antes deste museu no norte de França fechar as portas, uma mulher de 28 anos escreveu a preto “AE911” no canto inferior do quadro, noticiou a Agência France Presse (AFP). A misteriosa inscrição com 30 centímetros de comprimento e seis de altura foi feita a marcador e em segundos, já que, segundo fontes do Louvre-Lens, a mulher foi imediatamente interrompida por um vigilante e um visitante.
Esta sexta-feira ao início da manhã o museu dizia já, em comunicado, que à primeira vista "a inscrição superficial" poderia ser "apagada facilmente”. A pintura de Delacroix seria cuidadosamente analisada por uma perita em conservação do Louvre. Com base no diagnóstico que fosse feito, o museu decidiria se a obra deste grande mestre do romantismo francês poderia permanecer em exposição ou se teria de ser retirada para restauro em laboratório. Afinal, menos de 24 horas depois, ficou tudo resolvido.
A técnica e o director do departamento de pintura do Louvre, Vincent Pomarède, chegaram ao museu de Lens bem cedo e começaram a trabalhar. Umas horas depois, a conservadora restauradora dava-se por satifeita - as letras e números tinham sido completamente apagados.
A inscrição, garantiu o Louvre em novo comunicado, "foi integralmente retirada": "A integridade da obra em nada foi afectada, a inscrição era superficial e limitou-se à superfície de verniz, não afectou a camada pictórica."
Delacroix e o 11 de Setembro?
A responsável por este acto de vandalismo, cuja identidade não foi divulgada, não quis comentar o significado da inscrição, nem a hipótese avançada de que estaria ligada a uma teoria conspirativa sobre os atentados de 11 de Setembro de 2001 nos Estados Unidos.
A teoria surgiu porque “AE911” está ligada a uma petição online com o título Architects and Engeneers for 9/11 Truth (ae911truth.org). Nela “1768 arquitectos e engenheiros diplomados, e mais de 16421 cidadãos preocupados” exigem ao Congresso americano um inquérito verdadeiramente independente sobre o ataque às Torres Gémeas, em Nova Iorque, e ao Pentágono, em Washington.
Entretanto, a mulher de 28 anos, que permanece detida, deverá ser examinada por um psiquiatra, de acordo com o determinado pelo procurador local, Philippe Peyroux. Para este jurista encarregue de conduzir o processo, é preciso apurar se o acto de vandalismo foi motivado por um delírio conspirativo qualquer ou se é o reflexo de uma reivindicação concreta. “Tencionamos saber mais sobre esta pessoa”, disse Peyroux, citado pelo jornal francês Le Figaro.
Com Retrato de Balthazar Castiglione, de Rafael, e La Madeleine à la veilleuse, de Georges de La Tour, A Liberdade Guiando o Povo faz parte do conjunto de obras-primas que o Museu do Louvre fez deslocar a Lens para a inauguração da sua extensão na cidade, a 4 de Dezembro último. Para esta pintura de grandes dimensões (260X325 cm), que desde aí já foi vista por mais de 200 mil visitantes, Delacroix inspirou-se nos dias de 27, 28 e 29 de Julho, que marcaram a revolução de 1830, explica a AFP.
Estava previsto que este Delacroix, verdadeiro símbolo nacional que já serviu de referência à ilustração das velhas notas de 100 francos e inspirou Victor Hugo, ficasse em Lens até ao final de 2013, integrando uma exposição que inclui 200 pinturas, esculturas e peças de cerâmica que pertencem à colecção do museu parisiense, o mais visitado do mundo.
É a terceira vez que A Liberdade Guiando o Povo sai da sua sala à beira do Sena, onde habitualmente está exposta ao lado de A Jangada da Medusa, de Théodore Géricault. Até quinta-feira, nunca tinha sido atacada.
Notícia actualizada às 15h45