JP Simões e Norberto Lobo não têm nada contra o Natal

Pela primeira vez em mais de dez anos Legendary Tigerman não actua na noite de Natal na ZDB. Os seus herdeiros ainda não estão propriamente certos do que ali vão fazer. Mas não têm nada a apontar à data...

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No espectáculo deverão colaborar em versões novas das canções de ambos Miguel Madeira

Durante mais de uma década a Galeria Zé dos Bois, em Lisboa, ofereceu, a cada 25 de Dezembro, um natal alternativo, em que em vez de bacalhau, da família e das rabanadas havia Legendary Tigerman e guitarradas. Essas noites são, agora, lendárias, visto o bluesman do Mondego ter abdicado do seu cargo. Mas quem ama mais a música que o pinheiro iluminado não tem que reclamar: a noite de hoje continuará a ter música na ZDB, só que desta feita cortesia de JP Simões e Norberto Lobo.

Aqueles que escapulirem hoje à família terão direito, em princípio, a um triplo-concerto: haverá uma parte a solo para cada um e no fim os dois juntar-se-ão (23 horas, 12 euros). Ainda não é claro o que farão em conjunto, mas segundo Simões é muito possível que a parceria tenha semelhanças com o que os dois mostraram recentemente no CCB quando JP convidou Lobo a colaborar no seu espectáculo Carta Branca. “Na altura apresentámos três temas: uma versão de Canção da Paciência [de Zeca Afonso], uma versão de Balada para Lhasa [instrumental de Norberto] com melodia minha e uma versão de Para Lá de Bagdad [de Marco Franco]”.

Simões e Lobo não são apenas ocasionais colaboradores; são amigos. “Nós conhecemo-nos há muito”, diz Simões. “Em 2007 fiz um programa de televisão chamado KM Zero [em que andava pelo país à procura de músicos desconhecidos] e descobri o Norberto, que me fascinou”.

Mantiveram-se em contacto, mas, segundo JP, “não tanto por razões musicais como de afinidade pessoal”. A prova disso é que só ao fim de quatro anos de amizade é que os dois colaboraram, quando a mítica editora Orfeu, que editou a maior parte da obra de Zeca Afonso, regressou das cinzas. “Eles fizeram um disco de homenagem ao Zeca [ReIntervenção] e eu e o Norberto fizemos uma revisitação da Canção da Paciência”.

 "Às vezes”, confessa Simões, Norberto ia a casa do autor de A minha geração [do seu disco 1970] “e gravava umas coisas que deixava lá por casa”. Uma das coisas que Lobo deixou em casa de Simões foi Balada para Lhasa, que deve o título à cantora mexicana com o mesmo nome. Lobo editou-a mais tarde, mas apesar disso, diz Simões, “a canção ficou como nossa”, porque Simões apreciou-a de tal modo que escreveu uma letra para ela.

 “Tive imensa dificuldade em escrever a letra, porque a música já é tão narrativa e já há ali tanta coisa, que não é fácil encontrar lugar. Mas não é impossível escrever letras para os instrumentais do Norberto; há ali muitas melodias”.

Os dois músicos ainda não falaram do concerto nem ensaiaram nada, diz Simões. “Como tocámos juntos há pouco tempo não há necessidade de grandes afinações”. Pelo que para já, e à excepção das três versões mencionadas, o resto da terceira parte do concerto – em que deverão colaborar em versões novas das canções de ambos – ainda está em aberto. A dado momento da conversa  Simões afiançou estar a “pensar fazer uma versão do You Make Me Feel Mighty Real, do Sylvester [cantor da época áurea do disco-sound], com um chapéu de Natal na cabeça”. Segundos depois admitiu estar a brincar, mas com ele nunca se sabe.

Simões começou por ser guitarrista nos Pop Dell’Arte, por alturas de Sex Symbol, e atingiu a notoriedade enquanto vocalista da banda de cabaret decadente Belle Chase Hotel. Posteriormente criou o Quinteto Tati e de seguida encetou carreira a solo, iniciada com o seu disco mais declaradamente influenciado por Chico Buarque, 1970. A carreira de Norberto Lobo é mais recente. Mestre precoce da guitarra acústica, deve tanto a Carlos Paredes quanto a guitarristas americanos como John Fahey. O seu primeiro disco, Mudar de Bina, de 2007, valeu-lhe de imeditao o culto e o reconhecimento; recentemente editou Mel Azul.

 Ao contrário de Legendary Tigerman, cuja antipatia ao Natal era pública e ia ao ponto de  ter intitulado um dos seus discos Fuck Christmas, I Got The Blues, Simões e Lobo não têm nada a apontar à data. “Já fui criança no mundo ocidental, claro que apreciava e temia o senhor de barba que tinha o poder de dar e tirar presentes”, diz Simões, que ainda assim não pode ser considerado um ortodoxo. Ao fim e ao cabo, durante esta conversa garantiu-nos que José costumava virar-se para Jesus Cristo e dizer-lhe “Gosto muito de ti, mas espero que sejas o único filho de Deus nesta casa”. 

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