João Pedro Rodrigues regressa ao seu passado: observar aves

Quando era criança queria ser ornitólogo. O desejo de fazer de cinema desviou-o desse caminho. Agora é o cinema que o faz regressar a esse desejo, com a próxima longa-metragem.

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Nuno Ferreira Santos

O realizador João Pedro Rodrigues está a preparar a próxima longa-metragem, O Ornitólogo, co-produção entre Portugal (através da Blackmaria), o Brasil e França,e vai aproveitar a sua presença no Festival de Cannes - 15 a 26 de Maio –, onde preside ao júri da Queer Palm, para negociar a produção.

Quando era criança João Pedro queria ser ornitólogo. Mas o desejo de fazer de cinema desviou-o desse caminho. Agora, aos 46 anos, é o cinema que o faz regressar a esse desejo. "Antes de estudar cinema estudei biologia mas o cinema desviou-me desse futuro. Comecei a observar aves muito cedo, na minha adolescência, por isso é uma espécie de regresso ao passado”, disse ao PÚBLICO João Pedro, agora com quatro longas-metragens filmadas.

Dentro de dias estará na 66ª edição do Festival Cannes, onde será presidente do júri da Queer Palm - prémio atribuído às longas e curtas pela abordagem  de temas homossexuais, lésbicos, bissexuais ou transgéneros -, depois de em 2011 ter sido membro do júri da Cinéfondation e da Palma de Ouro de Curta-metragem e Presidente do Júri das curtas da Semana da Crítica em 2012.

No filme, que ainda está em preparação, procura revisitar a “mitologias portuguesas”, como o “mito de Santo António”: "Interessa-me muito a construção das mitologias, tanto as mitologias do cinema como as mitologias características de cada país. E até as minhas próprias mitologias”. Vai filmar em Trás-os-Montes, na fronteira entre Portugal e Espanha, e justifica essa decisão dizendo que nessa zona ainda resiste uma espécie de “força original da natureza”, que ainda não foi transformada pelo homem, e porque aí existem “determinadas espécies de aves que são raras em Portugal e na Europa”.

Por ter filmado quase sempre na cidade, quer agora confrontar-se com a “rudeza violenta da natureza e dos elementos das pedras, da água, do rio…”. Mas mesmo quando filmou a cidade,  interessou-se por uma Lisboa "entre a cidade e o campo, como se o que ainda há de selvagem na natureza, onde se instalou a cidade, resistisse à civilização”.

Em O Ornitólogo pretende regressar à película de 35 milímetros. “É uma espécie de acreditar que ainda é possível fazer filmes em película, quando tudo parece apontar para se fazer filmes em digital”, diz, adiantando que embora tenha filmado a A Última Vez que Vi Macau (2012) em digital, as suas três primeiras longas foram filmadas em película. Admite que filmar aves selvagens em película pode parecer à partida uma “contradição” porque se passa muito tempo à espera que elas apareçam. Mas por outro lado explica que  pretende “filmar o impossível, aquele momento em que a ave aparece. E isso só pode ser filmado com algum mistério filmando em película”.

 

 

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