João Canijo irá a pé a Fátima para filmar, João Botelho atira-se aos Maias

Homologados os resultados dos concursos de apoio à produção cinematográfica de 2011. Nas longas de ficção, Botelho filmará Os Maias com um cast de 50 actores, Canijo fará Caminhos da Alma a pé até Fátima.

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O filme de Canijo é definido pelo realizador como um foot movie: a pé até Fátima Miguel Manso

Os resultados do concurso de apoio à produção de 2011 foram homologados há cerca de um mês pela Secretaria de Estado da Cultura. Botelho, que fará Os Maias - (Alguns) episódios da vida romântica, diz que começa a filmar em Outubro, Já Canijo irá a pé até Fátima quando vir o seu contrato assinado com a tutela. São as escolhas do júri de um concurso aberto há dois anos que agora foram homologadas, disse à Lusa fonte do Instituto do Cinema e Audiovisual.

 

O filme de Botelho tem mais uma vez como ponto de partida um texto literário ou um desejo de intervenção sobre uma ideia de Portugal - como Conversa Acabada (Mário Sá Carneiro), A Corte do Norte, de Agustina Bessa-Luís, Quem és Tu? (adaptação do Frei Luís de Sousa) ou Filme do Desassossego (Fernando Pessoa). “Se eles escrevem melhor do que eu porque é que eu hei-de escrever? Gosto da relação do cinema com a literatura, que é uma das mil maneiras de fazer cinema”, explicou ao PÚBLICO o realizador

Com a adaptação de Os Maias, de Eça de Queirós, Botelho pretende “continuar a prestar um serviço público”: “A situação em Portugal é tão precária que me interessa pegar em textos fortes que dizem respeito a todos nós e afirmá-los. Há milhares de maneiras de fazer filmes, podem-se fazer filmes sem uma única palavra. Quando é um luxo fazer filmes neste país devem-se afirmar coisas que são importantes na nossa vida”, justifica.

O que mais lhe interessa no romance é o paralelismo entre a situação socio-económica de 1800 e aquela em que nos encontramos. “O país retratado nos Maias é um país muito parecido com o de hoje, na definição dos comportamentos, da indiferença das pessoas que têm mais poder, do desespero dos mais pobres. O mais importante é a ideia da decadência de uma família e de uma ideia de país, quero explorar esta ideia de limite”, disse.

A situação precária do cinema português: o concurso é de 2011 - em 2012 o calendário de concursos  foi suspenso pela tutela por falta de orçamento - e os resultados são anunciados dois anos depois. O apoio de 600 mil euros a Os Maias, diz o realizador, corresponde a menos de metade do orçamento estimado para esta co-produção com o Brasil. “É um filme difícil e caro, tem 50 actores e muitos figurantes."  Paralelamente ao filme, de duas horas, haverá uma série televisiva de três episódios, de cinquenta minutos cada.

Botelho diz já ter data pensada para a rodagem (Outubro) e estreia (Primavera de 2014). Já João Canijo não partilha do mesmo optimismo, por isso não quer adiantar pormenores sobre o projecto. “Este apoio [600 mil euros] vai ser concretizado um dia mais tarde, o que não é certo é quando... Ainda não se começou a preparação a sério. Tenho um argumento que serve de base mas que vai ser depois transformado com a pesquisa”, explica. É o seu “método”.

Caminhos da Alma será um filme sobre a peregrinação de um grupo de mulheres, de Bragança até Fátima, “cada uma com o seu motivo e promessas, com a sua forma de olhar para Deus”. O realizador definirá, na pesquisa, no trabalho com os actores, as personagens e a forma como cada mulher encara a sua crença religiosa. “As pessoas quando olham para Deus têm sempre uma perspectiva filosófica embora não o saibam. A pessoa que fica raivosa com Deus-nosso-senhor porque Ele não fez o que ela quis e a pessoa que aceita a fatalidade são exemplos de pontos de vista do senso-comum que podem ter uma transposição filosófica”. O filme vai cruzar a ficção com o documentário, numa rodagem que pretende ser um foot-movie. Canijo já fez esse percurso a pé até Fátima, chegará a altura de as actrizes o fazerem. “Será ficção mas não exactamente ficção. A ideia é misturar o percurso dessas mulheres com o documental que se encontrar no caminho”.

Perante a incerteza da data em que assinará o contrato, ainda não consegue precisar o número de intérpretes que vão entrar no filme. “No mínimo são seis, no máximo onze."

E não está contrato assinado, confirma Pedro Borges, da Midas Filmes, o produtor. Nem está definido “mínimo horizonte temporal para a concretização desse apoio". A candidatura, conta o produtor, foi entregue em Novembro de 2011, a selecção pelo júri aconteceu mais de um ano depois, em Dezembro de 2012, e a homologação pela Secretaria de Estado da Cultura teve lugar em Março deste ano. “Quatro meses são passados e essa homologação ainda não foi formalizada em contrato entre o ICA e o produtor. Isto é, para todos os efeitos ainda não existe nenhum compromisso formal em relação a um novo projecto de filme de João Canijo. E, portanto, tudo o que seja anunciado publicamente é pura propaganda”. A Canijo, desabafa o realizador, resta “esperar, já não sentado, mas deitado."

"Vou fazer a minha tese de mestrado, em casa não gasto dinheiro”.

No programa de apoio anunciado há cinco documentários que vão receber um total de 300 mil euros: Além das pontes, de Pierre-Marie Goulet, Diários suspensos, de Joaquim Sapinho, As crónicas de Polyaris, de Christine Reeh, Silêncios do olhar, de José Nascimento, e The man with a box, de Marco Martins.

Actualmente, o ICA procede já à realização do concurso de 2013, com um total de 10,1 milhões de euros, depois de em 2012 não ter atribuído qualquer verba para o cinema português. Entre as candidaturas admitidas contam-se 44 para a produção de primeiras obras (longas-metragens de ficção), 60 para o desenvolvimento de documentários e 21 de cineclubes para a exibição de cinema não comercial.
 

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